segunda-feira, março 10, 2008

Análise da imprensa do dia da Marcha da Indignação

Frete De Sábado De Manhã
Paulo Guinote

Se exceptuarmos o Público que deu espaço na primeira página à
contestação dos professores, a imprensa de sábado de manhã fez os
possíveis por assobiar para o lado quanto à manifestação que se
preparava para esse dia, mesmo se abordava o assunto nas páginas
interiores.
O caso do Público, obviamente, é explicado pela sapiência comum como
um resultado do falhanço da OPA da Sonae.
O resto não sei o que o explicará.
Ou talvez saiba.
A verdade é que um punhado de directores de jornais e outros órgãos de
comunicação social, ditos de "referência", são desde há muito
profundamente hostis para com a classe dos professores e educadores.
Não alinho em teorias da conspiração ou cabalas.
Eu acredito sinceramente que <> não gostam de <>. Coisas da
infância, ou juventude, sei lá. Poderes analíticos superiores. Ouvem a
palavra <> e disparam as sinetas no cérebro. Não há beta-
blocker que resista.
Constato factos e explico-os à luz de um certo e determinado perfil
que deve ser indispensável para ter sucesso no mundo da direcção dos
jornais que, como sabemos, é um universo indispensável da democracia,
mas que ao que parece - com as devidas excepções - anda com os seus
problemas comerciais e uma pessoa interroga-se sobe o porquê de
pessoas de tanto sucesso não conseguirem demonstrá-lo na sua prática
profissional.
* Se o Correio da Manhã parece um pouco à margem desta questão e tem,
curiosamente, uma pluralidade de olhares sobre o tema, no caso do
Público, José Manuel Fernandes só na última semana deu uma <> à razão dos professores.
* No Diário de Notícias, João Marcelino parece ver nos professores uma
espécie de nemésis incompreensíveis. Não revela especiais (ou mínimos)
conhecimentos sobre o sector, mas isso não o impede de fazer uma
espécie de comentário futebolístico comprometido com uma das equipas.
Quase lembra os relatos daqueles jornalistas objectivos que gritam
<> a plenos pulmões quando a sua equipa marca e alegam fora-
de-jogo quando os <> empatam.
* No Expresso, Henrique Monteiro não dá qualquer hipótese aos
professores, reclama para si ideias revolucionárias sobre o tema
(adiante, em outro post, já as veremos) e dita de cátedra que os
docentes são uns ineptos conservadores, no que é acompanhado pelo seu
vice Fernando Madrinha, que a cada manifestação de rua vê o fantasma
do PC erguer-se, maus uns quantos Gulags atrás.
* No Sol, não se percebe bem sobre que mundo escreve o director.
Felizmente tem andado fora da área da educação, mas verdade seja dita
que a edição deste sábado do jornal é lamentável. Talvez seja
explicável, pelo contrário, à luz dos escritos de José António Lima
que alinha pela aversão ás posições dos docentes. Basta tê-lo lido no
sábado, dia 1 e ver que blogues o citam a propóstio.
* No Jornal de Notícias, a tarefa de zurzir forte e feio nos docentes
parece ficar reservada a uma segunda linha, de que é exemplo o
editorial de hoje de David Pontes, director-adjunto. Neste editorial
David Pontes faz de tudo um pouco: recusa a tese de alinhamento de
muita comunicação social com o poder usando como argumento a cobertura
do acontecimento pelas televisões. Ou seja, não compreende que se algo
vende, a TV mostra. Seguindo a sua lógica transparente, David Pontes
achará que a cobertura do caso Maddie confirma o apoio da comunicação
social a potenciais raptores (homicidas?) de crianças. Para culminar,
e por mero acaso, Pontes atinge, qual Pacheco Pereira, o <> do
seu poder argumentativo. É sempre emocionante descobrir palavras
novas. A mim acontece-me ao ler Mia Couto. David Pontes deveria
experimentar.
* Já quanto à TSF, Paulo Baldaia em duas semanas seguintes ultrapassa
os limites do razoável na sua forma de escrita persecutória em relação
aos professores em crónicas exactamente no JN, a quem ainda atribui
outros malefícios cívicos estranhos. Neste sábado, evoca mails
anónimos que atribui a professores (nem sequer lhe ocorre que alguém
pode forjar uma identidade num mail), cita Carvalho da Silva como
exemplo de sindicalista bom (o qual este ontem, para mim erradamente,
no Terreiro do Paço a discursar). Dá a entender que tem um problema
com o civismo dos docentes. No entanto, a rádio que dirige noticiou na
passada semana um putativo processo judicial contra mim, mas não se
deu ao trabalho de me contactar sobre o assunto. Nada de mais: os
princípios cívicos e ético-profissionais quando nascem não são para
todos.
Como, apesar disto, os professores ainda conseguiram passar parte da
sua mensagem - que não se resume aos comunicados da Fenprof como
muitos destes senhores parecem acreditar, por comodidade de
<> - é quase um mistério que só o profissionalismo de
muitos outros jornalistas conseguirá explicar.
E muito do ressentimento acumulado pelos professores ao longo destes
anos se deve ao facto de, contrariamente a advogados, médicos, juízes,
arquitectos ou outras profissões superiormente qualificadas, eles
nunca terem disposto nos jornais de mais do que um cantinho nas Cartas
ao Director, se possível com a missiva truncada.
Porque de Justiça podem falar juízes e advogados.
Da situação da Saúde, podem falar os médicos e os seus representantes.
E assim sucessivamente por vários sectores de actividade.
Só de Educação parece ser condição sine qua non ser não-professor para
ter tempo de antena na imprensa <>.

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