Estive no Terreiro do Paço no dia 8 de Novembro, no meio de milhares de pessoas. Proximos de mim, os de todos os dias. Companheiros de desencanto e batalhadores do dia a dia. Lentamente encorpámos a marcha dirigindo-nos à Rua do Ouro. Não senti euforia ou vontade de gritar palavras de ordem gastas ou fazer folclore de vez em quando.
Subi a avenida entre os mais de 120000 professores. Fomos muitas vezes em silêncio, vi muitos rostos cansados e tristes.
Outros comportam-se como se de uma grande festa se tratasse.
Outros comportam-se como se de uma grande festa se tratasse.
As palavras de ordem que se ouvem não me dizem muito, as canções são desafinadas e roufenhas, o Hino Nacional é cantado fora de tom, mas o minuto de silêncio finalmente faz-se ouvir e tem grito, alma, conteudo.
Os apelos sindicais são os mesmos do costume, são ouvidos com indiferença, ou nem são ouvidos assim como a moção que é lida diz mais do mesmo, não tem em conta os interesses reais de quem está ali...atira-se com a ideia de uma greve para dia 19 de Janeiro (?) entre outras coisas.
Pede-se aprovação...olho em redor, poucos estão atentos, poucos levantam o braço. Já em casa hei-de ouvir na TV que esta moção foi aprovada por unanimidade por todos os professores presentes...
Volto as costas, começo a descer a avenida, lentamente, pelas laterais. No palanque é o que pedem para fazermos já que "há camaradas ainda a subir a avenida e que insistem(?) em chegar ao Marquês " (sic)
Sinto-me usada, não só pelo Ministério mas também pelos sindicatos que orquestraram o dia 8 de Novembro.
Por isto vou voltar a estar no Marquês no dia 15 deste mesmo mês.
Não é só pela avaliação de professores como a ministra e a comunicação social querem fazer parecer.
É também por ou contra:
As aberrações dos diplomas que todos os dias temos de fazer malabarismos para aplicar;
O mau estatuto da carreira docente que passámos a ter;
O diploma da gestão e autonomia das escolas no qual se salientam factos, como a participação da comunidade escolar, que já estavam consignados, e bem, no dipoma que tem estado em vigor.
É também, pelos diplomas do ensino especial e pelo estatuto do aluno. Os efeitos destes dois diplomas estão a ser gravissimos na vida diária das escolas.
É também pela prova de ingresso na carreira docente, pela extinção dos conservatórios, pelo calendário escolar diferenciado entre a pré escolar e os restantes níveis de ensino.
É pelos alunos que passam parte do seu dia a serem transportados para escolas longe das suas comunidades, pelo mau funcionamento das actividades de enriquecimento curricular, que obrigam a uma escolarização da criança superior ao horário de trabalho de um adulto, entre outros factos...
Não caiamos na esparrela, como fizeram ontem os sindicatos, de só falar da avaliação de professores, é nisso que a comunicação social se quer centrar e fazer passar a mensagem de que nos manifestamos pelo facto de não querermos ser avaliados.
Dia quinze também lá estarei. De negro, em silêncio, com as palavras de ordem em cartazes que gritem o que não conseguiria fazer ouvir à força da boca.
E contra a prepotência do poder não adianta acenar com uma greve para daqui a dois meses...
É uma greve de zelo por tempo indeterminado logo a partir do dia 16 se for caso disso...
Mas isto sou só eu a dizer...que sou uma simples professora...
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