terça-feira, novembro 18, 2008

ENTREVISTA DE JOSÉ SÓCRATES À TSF E DN - CARTA DE UM PROFESSOR AOS SEUS DIRECTORES

Ex.mo Sr. João Marcelino/Paulo Baldaia

Ontem entrei no carro e ouvi os últimos 15 minutos da entrevista ao nosso primeiro ministro, exactamente no momento em que estavam a falar de educação, que era o que me interessava no momento. A custo, consegui ouvir até ao fim.

Envio-lhe o meu mais veemente lamento pela forma como a entrevista, ou o que lhe queiram chamar, foi conduzida, porquanto foi permitido ao sr. 1.º ministro dizer o maior chorrilho de mentiras sem que alguma vez tivesse sido corrigido. Deixaram-no passar mais uma mensagem propagandística que peca pela verdade, tal como ele nos tem habituado a ouvir, a começar pelo seu processo de habilitações literárias.

Os srs jornalistas TINHAM a OBRIGAÇÃO de se documentarem melhor para fazer uma entrevista dessas. Mais pareceu uma entrevista de "faz favor de dizer", com questões previamente combinadas, porque os entrevistadores eram pessoas experientes e deviam saber bem o que lá estavam a fazer. Só pode ter sido! Sócrates teve a oportunidade de explicar a sua educação à sua maneira e o resto foi servido em bandeja de ouro.

O meu nome é Francisco Teixeira Homem, sou professor na Escola Secundária Dr. Jaime Magalhães Lima em Aveiro, tenho 34 anos de serviço.

Tenho ainda uma licenciatura de 5 anos, que é verdadeira e rigorosa. Sou do tempo em que o estágio pedagógico era de 2 anos. Fiz um mestrado e a parte curricular de um 2.º mestrado no tempo em que os mestrados eram de 2 anos. Tirei o doutoramento no tempo em que eram de 5 anos. Os investimentos na minha carreira e profissão foram pagos por mim e pelo sacrifício da minha família. Progredi na carreira com o cumprimento rigoroso de todos os créditos e subi ao 8.º escalão com provas públicas efectuadas em Coimbra nas instalações da Direcção Regional de Educação do Centro. Não progredi com benesses até chegar ao 10.º escalão, onde tenho a minha carreira congelada e a ganhar tanto como um licenciado.

Por acaso vou ser avaliado por uma professora que é do mesmo grupo que eu, mas há casos de professores de História a avaliar os de Inglês, de Educação Física a avaliar os de Ed. Visual ou Educação Especial, de Biologia a avaliar os de Matemática... enfim!!!

Quando um professor destes vai assistir a uma aula dos outros (e tem de o fazer 2 vezes) está a ser justo, por mais que o queira? Haverá honestidade neste processo?

Não me licenciei a um domingo com 26 das 31 cadeiras em falta dadas como equivalentes, nem com professores amigos ou reitores presos por falsificação de documentos, nem com a utilização de cartões do governo. A minha Universidade é pública, do Porto, e podem ser consultados todos os meus documentos. Não foi encerrada, como a UNI, só Deus sabe, VERDADEIRAMENTE, porquê.

O sr. JS mente quando diz que agora há o mérito de distinguir os professores excelentes dos outros. Uma pessoa cujo percurso académico, cheio de falta de rigor, mérito e excelência, não lhe oferece a mais pequena moralidade para pensar sequer nisso, quanto mais falar!... Desculpe voltar a falar disto, mas é uma VERDADE que anda a ser camuflada e continuamente escondida.

A criação INJUSTA do professor titular no ECD é a MAIOR FRAUDE que passou impune em Portugal. Os professores foram classificados APENAS pelos últimos 7 anos de profissão, não pelos conhecimentos, mas pelos cargos exercidos. Imagina certamente o que eu, com 34 anos de serviço, deva ter prestado ao ensino como professor. Pois bem, 27 desses meus anos contaram ZERO. RIGOROSAMENTE... ZERO.

Aqueles anos em que, quando mais jovem, tinha capacidade para fazer e vontade para tudo, contaram NADA. Não sei quantos anos de serviço tem o sr. João Marcelino/Paulo Baldaia, mas diga-me como se sentiria se a sua classificação fosse feita apenas com base nos últimos 7 anos, não pelos seus conhecimentos e capacidade, mas APENAS pelas funções que prestou. Há professores belíssimos que foram prejudicados por terem querido ensinar. Há escolas onde ficaram titulares professores com 86 pontos, enquanto noutras escolas professores com 130 pontos não o conseguiram ser.

UMA VERGONHA que a imprensa nunca soube (ou nunca quis) denunciar. A escola hoje deixou de ENSINAR. O próprio ministério deixou de ser o Ministério da Educação e passou a ser o Ministério da Certificação.
Faça esta experiência. Vá a uma escola e diga que se quer matricular para APRENDER. Para APRENDER!!!
Não há como nem onde. Até com o sistema de créditos já acabaram. Mandam-no para os EFAs ou para as Novas Oportunidades. Veja o que isso é. O que lá se aprende. Em quantos MESES se pode fazer ao mesmo tempo o 7.º, 8.º e 9.º anos e depois o 10.º, 11.º e 12.º anos. Acabaram com o "Ad Hoc", agora há o "mais 23". Compare-os. Agora, com a apresentação do currículo e a entrevista, um candidato ao ensino universitário fica logo com 60%. Os "trocos" ficam depois para um exame muito mais SIMPLIFICADO. O sr. JS falou nos cursos profissionais.
Vá a uma escola e veja o que é isso de cursos profissionais. A verdade. E já agora os CEFs. A pressão permanente para que os alunos passem sem saber apenas e só para uma avaliação estatística. As permanentes lamúrias da sr.ª ministra quanto aos custos de uma reprovação e ao facilitismo em reprovar.
Agora, na avaliação dos professores, é contabilizado o n.º de alunos reprovados, numa vergonhosa e clara afronta à perda de independência. Que culpa tenho eu que, no início do ano, me tenha calhado uma turma mal educada e pouco estudiosa? Que culpa tenho eu que um aluno abandone a escola porque quer ir trabalhar ou não gosta de estudar, ainda que tudo tenha feito com os pais para que tal não aconteça? PORQUE é que isso se reflecte na avaliação?
Já alguma vez pediu a uma escola as fichas de avaliação? Não acredito, desculpe, mas não acredito que alguma vez as tenha visto. É IMPOSSÍVEL que aquilo possa ser seguido, IMPOSSÍVEL. Se não as conhece, procure ver algumas.
Os professores o melhor é deixarem de dar aulas. Cada escola tem as suas grelhas de avaliação. São 3 grelhas, qual delas a melhor, sempre elaboradas da forma mais incrível, injusta, desadequada, complexa, pouco credível e, acima de tudo, inexequível.

Isto não é uma brincadeira?

Os professores não têm família e direito ao tempo livre e lazer?

JS falou igualmente no Inglês e na Educação Física das escolas primárias, que já havia antes dele.
Pergunte quanto ganham esses professores e compare com o que ganha uma empregada doméstica, sem qualquer desprestígio para as empregadas domésticas.

Sr. João Marcelino/Paulo Baldaia, peço-lhe desculpa se me excedi. Penso que não. Acredito que com algumas destas "dicas", futuras entrevistas suas ao sr. JS serão diferentes. A verdade é que andamos de tal forma a ser maltratados e enxovalhados com tanta MENTIRA que, após o programa da TSF, que é uma rádio que oiço sempre, senti necessidade de "desentupir".

É estranho, muito estranho mesmo que a certas pessoas seja permitido fazer passar incolumemente certas mensagens. E o sr. primeiro ministro é uma delas. Usa e abusa.

Este foi o direito à minha INDIGNAÇÃO.

Queira aceitar os meus mais respeitosos cumprimentos

O professor Francisco Teixeira Homem

Identificado pelo BI 7356603, de 16.08.1999

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