Mais um bom trabalho do jornalista Filipe Caetano.
Bom fim-de-semana,
M.
"A primeira data a surgir foi 15 de Novembro, mas a Fenprof reagiu e marcou uma jornada de luta para dia 8. A semana de diferença está a gerar indignação em vastos núcleos de professores, que vão reagindo em vários sites e blogs, para além de e-mails.Tal como aconteceu no início do ano, em que foram surgindo vários núcleos de professores que diziam estar em luto pela educação, motivando marchas em vários cidades que culminaram na marcha da indignação que juntou mais de cem mil docentes em Lisboa a 8 de Março, também agora a ideia foi florescendo.
Se na primeira grande manifestação a Plataforma Sindical conseguiu aglutinar esses esforços, agora existe uma notória divisão, com troca de acusações entre os defensores de dia 8 e os de dia 15.
Esta quarta-feira, o líder da Fenprof, Mário Nogueira, deixou a mensagem, dizendo que o outro movimento «sai de qualquer calendário útil no plano da negociação»: «Em nome da Plataforma, apelamos à participação de todos os educadores e professores para que se juntem a esta iniciativa no dia 8 de Novembro, sem sectarismos, sem divisões. O tempo é de unidade. Não é de facilidades ao ME e ao Governo, que baterá palmas aos que apostam na divisão dos professores».
Uma leitura que não encontra resposta positiva do outro lado. Para além de docentes anónimos e bloggers mais ou menos activos, a Associação de Professores e Educadores em Defesa do Ensino (APEDE) e o Movimento Mobilização e Unidade dos Professores (MUP) têm batalhado pela manifestação de dia 15, que consideram ser «independente».
O dia dos «dois nãos»
«No dia 15 Novembro lá estarei, com sindicatos ou sem eles. Faça frio ou calor, chova, troveje ou caia neve. Gritarei pelos direitos e dignidade dos professores, da qualidade de ensino, contra a prepotência, a arrogância e a estupidez. Estarei em 15 de Novembro e sempre que a unidade dos professores o reclame, em defesa de VALORES», escreve o professor Francisco da Silva, num dos muitos e-mails que vão circulando entre as caixas de correio dos docentes de todo o país.
Também a blogosfera não se resigna. Fala-se na «manifestação dos dois nãos», à ministra da Educação e aos sindicatos, enquanto cartoons ilustram essa ligação perigosa.
Os textos sucedem-se: «Estamos a assistir a um dos episódios mais bizarros de que me lembro¿ Os sindicatos demarcaram-se daqueles que deviam representar»; «Parece-me que a FENPROF quis inventar um motivo para desmobilizar os professores, a fim de que a marcha marcada para o dia 15/11 seja um fracasso. Sei que há centenas de professores que estão a devolver os cartões aos sindicatos»; «Não encontro nenhum objectivo claro para a manifestação de dia 8»; «Esta atitude divisionista dos sindicatos é ignóbil, vil e completamente despropositada».
Entretanto, há alguém a esforçar-se por uma união que parece cada vez mais impossível."
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Publicada por Moriae em 'a sinistra ministra' a 10/17/2008
Um comentário:
1ª Citação
Toda a pessoa tem o direito de fundar, com outras pessoas, sindicatos e de se filiar em sindicatos para defesa dos seus interesses. (Ponto 4 do Artigo 23º da Declaração Universal dos Direitos Humanos).
2ª Citação
É inadmissível que os sindicatos se tenham demarcado do profundo descontentamento dos professores que deveriam representar. Não aproveitaram e boicotaram a união que existia para defender os interesses de uma classe totalmente descontente, ridicularizada, espezinhada e "assaltada" de direitos fundamentais, fazendo um favor à senhora Ministra. Dizem os sindicatos que a manifestação de 15 de Novembro não tem quem negoceie com o governo. É verdade, neste momento, já ninguém defende os professores. Quem os devia defender, divide-os. Todos esperávamos que os sindicatos participassem na manifestação, mas vieram representantes à minha escola dizerem para não irmos???!!!! Ao demarcarem-se dos professores mostraram de que lado estão…
(Ilídio Trindade coordenador do MUP,
in Blogue do MUP - http://mobilizacaoeunidadedosprofessores.blogspot.com/2008/10/manifestaes.html)
3ª Citação
A formação dos núcleos de escola ou dos núcleos regionais pode ser realizada a partir de movimentos locais anteriores à constituição da associação, não havendo qualquer obrigatoriedade em que esses movimentos se dissolvam pelo facto de os seus membros aderirem aos referidos núcleos. No entanto, as actividades de uns e de outros não deverão ser confundidas.
Os núcleos de escola e regionais desenvolverão as suas actividades de forma autónoma relativamente à direcção da associação, mas, sempre que possível, deverão comunicar a esta última as iniciativas que tomarem. Esta norma não visa o exercício de um controlo centralista por parte da direcção, mas sim que esta tenha conhecimento de iniciativas locais imaginativas ou eficazes, podendo mais facilmente desencadear os mecanismos para que as mesmas sejam generalizadas a outras escolas ou regiões.
(in Regulamento da APEDE – associação não sindical –
http://apede.pt/joomlasite/index.php?option=com_content&task=view&id=12&Itemid=29).
4ª Citação
Os professores são espíritos livres. Que cada um faça a sua escolha.
(in http://www.profblog.org/2008/10/duas-curtas-ou-uma-grande-somos.html)
As manifestações espontâneas, individuais ou colectivas são um direito – são a expressão da Democracia. As associações de professores, os sindicatos de professores e outras organizações registadas, com estatutos, com responsabilidades sérias e assumidas, com objectivos formalmente conhecidos e com um corpo de associados formalmente inscritos, são entidades legítimas e credíveis. Em toda e qualquer acção empreendida por estas organizações, os seus associados expõe a cara, o nome e os princípios que os movem… Não são espíritos livres – são Pessoas Livres que constroem a Democracia.
Mas, na sombrinha protectora dos sms, dos e-mail, dos blogs… mas, também, na penumbra dos corredores das escolas ou na barulheira das salas de professores e dos bufetes das escolas … andam por aí, sem cara nem nome, uns espíritos amarrados a propósitos anónimos, com o intuito de denegrir a acção sindical universalmente consagrada. Nesses momentos é preciso haver precaução e discernimento suficientes para nos demarcarmos dessas movimentações anónimas. Estas milícias de acólitos da Sombra não são espontâneas – são preparadas e organizadas e, por algum motivo desconhecido, não se encontram registadas! Uma dá-se pelo nome de MUP, outra dá-se pelo nome de MEP (da qual faz parte o J.P.Vasconcelos, membro do CN da FENPROF) e outra, ainda, dá-se pelo nome de PROmova… Mas importa, sobretudo, conhecer a “Sombra” que abriga estas “milícias” – a APEDE (uma associação não sindical, que penso estar registada e, por conseguinte, ser portadora de responsabilidades civis). É ela, penso eu, que organiza e apoia estes “movimentos espontâneos”, tal como se depreende do seu próprio regulamento (ver 3ª citação) – eles são as suas células, assumidas na estrutura organizativa enquanto núcleos de escola e núcleos regionais, com origem nos movimentos locais anteriores à constituição da associação.
As associações não se podem registar sob quaisquer estatutos ou sob quaisquer objectivos – Têm responsabilidade civil e quando não a cumprem podem ser dissolvidas. É muito fácil “berrar” quando não se tem um nome “na praça” nem estatutos, regulamentos ou escrúpulos para preservar e honrar. É muito conveniente, para algumas associações, disporem de uns “espíritos livres” ou de uns “movimentos espontâneos” para “berrarem” por elas, mas os Sindicatos não “berram”, não chamam nomes aos membros do governo nas manifestações, embora haja sempre quem se cole a essas manifestações e, com ou sem intenção, desprestigie os professores e as organizações sindicais. Constituindo, a actividade sindical, um direito humano universalmente reconhecido, algo deveria ser feito para travar estes impropérios organizativos.
Quem representa legitimamente os Professores? São as ORGANIZAÇÕES ESTABELECIDAS (sindicais, científicas, recreativas…) ou as CORPORAÇÔES CONSPIRATIVAS que as pretendem demover? É muito fácil, para um espírito, falar mal dos sindicatos sem nunca ter sido delegado ou dirigente sindical e sem nunca ter contribuído para as formas de luta que os sindicatos têm desencadeado, porque é nessas organizações que se luta democraticamente pelos nossos ideais, confrontando a nossa visão com a dos demais e aceitando, democraticamente, a opção do colectivo que vai crescendo com a força das diferenças unidas – os professores frustrados que se “colam” a estes espíritos são, muito provavelmente, aqueles adesivos (como lhes chamava Vitorino Nemésio) que, nas escolas, andam sempre a retorquir da acção sindical e a querer saber dos delegados/dirigentes, quando é que o Sindicato faz alguma coisa (por eles) mas, depois, quando há uma greve, queixam-se por ser ao sábado, queixam-se por ser à sexta, queixam-se porque têm um teste… e não sabem fazer mais do que isso mesmo – queixarem-se. Dedico-lhes a cantiga “Movimento Perpétuo Associativo” dos “Deolinda” (procurem-na no youtube). Vamos ver quem representa os professores – se os espíritos que organizaram o dia 15, ou os sindicatos que organizaram o dia 8, constituídos por professores, bem vivos, que não se escondem atrás de intrigas espirituais. A diferença entre uns e outros viu-se em algumas manifestações: para um espírito é fácil acenar uma faixa, ou cartaz, com a fotografia da Srª Ministra e com a palavra “vaca”. Este tipo de manifestos nunca transporta o nome das organizações sindicais. As palavras de ordem, as bandeiras, as faixas das organizações sindicais… todos esses suportes têm responsabilidades concretas para com aqueles que representam e que, afinal, são EDUCADORES de carne e osso e referências bem concretas para os seus alunos.
A FENPROF anda a divulgar pelas escolas uma proposta aberta relativa a um modelo alternativo de avaliação do desempenho. A ideia é levar para as negociações de Junho/Julho, com o Ministério da Educação, algo de concreto e representativo da vontade dos professores. Qual é a proposta dos “espíritos”? Têm algum representante nas negociações de Junho/Julho? Têm andado pelas escolas a reunir de forma aberta com os professores, em reuniões legítima e legalmente convocadas, assumindo a responsabilidade pela palavra passada ou será que, pelo contrário, apanham este e aquele (mais desprevenido) e passam a palavra sob a mesma cobardia que tem sido a verdadeira causa da inércia e da desunião dos professores?
Creio que, assim, ficam esclarecidos aqueles que ainda não tinham percebido as razões pelas quais a FENPROF não se “colou” à iniciativa do dia 15. As organizações não se “colam” a corporações anónimas e esse é um dos vários sentidos de responsabilidade que as caracterizam.
Que intenções terão aqueles que sabendo, à partida, que não têm condições logísticas para levar mais de cem mil professores a Lisboa, acabarão por permitir uma interpretação de desmobilização da classe docente relativamente à inesquecível “Marcha da Indignação”? É importante conseguir mais de cem mil professores em Lisboa no dia oito.
O dia quinze nunca teria essa escala de participação e, penso eu, nunca teve essa intenção…
Não sou espírito e tenho nome.
Paulo Duarte
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