Uma notícia publicada no passado dia 5 de Janeiro de 2009 no site do Ministério da Educação revela em tom congratulatório o sucesso do ensino profissional público. Ao passo que em 2004 apenas 3 676 alunos estavam inscritos nos cursos profissionais, em 2008 esse número passou para 54 899. Isto parece um sucesso, mas não é.
Não é um sucesso porque os actuais Cursos Profissionais promovem ainda mais evidentemente a exclusão social do que os seus silenciosamente abandonados antecessores, os Cursos Tecnológicos. Isto porque no segundo caso os alunos tinham ainda um percurso paralelo ao ensino corrente, o que lhes permitia prosseguir os estudos e entrar numa universidade, mas isso não acontece nos novos Cursos Profissionais. Dada a imensa diferença de nível de vida que existe entre quem tem e quem não tem um curso universitário, quantos mais alunos houver nos Cursos Profissionais mais cidadãos se virão privados do acesso à escola, tal como esta é tradicionalmente concebida pela esquerda: como, entre outras coisas, um instrumento de mobilidade social. Temos assim uma mentira política brilhante: mantêm-se os alunos na escola sem que na realidade estejam na escola.
O governo toma este tipo de medidas por duas razões, igualmente inaceitáveis. Primeiro, porque quantos mais alunos culturalmente carenciados saírem do percurso escolar normal, menores serão os indícios de insucesso escolar; estes são os alunos que, por não virem ensinados de casa nem sensibilizados para o valor da escola, precisam que a escola faça esse trabalho — e a escola é incapaz de o fazer. Segundo, porque subsiste a crença falsa de que os alunos culturalmente carenciados são maus alunos por serem estúpidos, e não por provirem de meios culturalmente pobres. Se pensarmos que os maus resultados destes alunos não se devem a estupidez mas a carências culturais, vê-se imediatamente que um dos deveres centrais da escola é precisamente colmatar essas carências culturais, para pôr estes alunos tanto quanto possível ao nível dos outros.
Os mais de cinquenta mil alunos dos Cursos Profissionais são outros tantos cidadãos a quem não se reconhece o direito ao ensino de qualidade, nem à mobilidade social. São crianças e jovens a quem o governo desistiu de cultivar, isolando-os cuidadosamente dos conhecimentos de história e química, artes e economia, filosofia e matemática. Conhecimentos que além do valor intrínseco que têm, têm ainda o valor económico de lhes dar estatisticamente uma vida melhor do que os seus pais tiveram. Não tive acesso a dados estatísticos sobre a proveniência económica e social destes mais de cinquenta mil alunos vítimas da mentira política, mas a minha previsão é que será reduzidíssimo o número dos que provêm de famílias cujos pais têm doutoramentos, por exemplo, ou rendimentos 200% acima da média.
A escola tem de aprender a ensinar os jovens provenientes de famílias culturalmente carenciadas. Desistir de o fazer por ser difícil é uma perversidade inaceitável.
Não é um sucesso porque os actuais Cursos Profissionais promovem ainda mais evidentemente a exclusão social do que os seus silenciosamente abandonados antecessores, os Cursos Tecnológicos. Isto porque no segundo caso os alunos tinham ainda um percurso paralelo ao ensino corrente, o que lhes permitia prosseguir os estudos e entrar numa universidade, mas isso não acontece nos novos Cursos Profissionais. Dada a imensa diferença de nível de vida que existe entre quem tem e quem não tem um curso universitário, quantos mais alunos houver nos Cursos Profissionais mais cidadãos se virão privados do acesso à escola, tal como esta é tradicionalmente concebida pela esquerda: como, entre outras coisas, um instrumento de mobilidade social. Temos assim uma mentira política brilhante: mantêm-se os alunos na escola sem que na realidade estejam na escola.
O governo toma este tipo de medidas por duas razões, igualmente inaceitáveis. Primeiro, porque quantos mais alunos culturalmente carenciados saírem do percurso escolar normal, menores serão os indícios de insucesso escolar; estes são os alunos que, por não virem ensinados de casa nem sensibilizados para o valor da escola, precisam que a escola faça esse trabalho — e a escola é incapaz de o fazer. Segundo, porque subsiste a crença falsa de que os alunos culturalmente carenciados são maus alunos por serem estúpidos, e não por provirem de meios culturalmente pobres. Se pensarmos que os maus resultados destes alunos não se devem a estupidez mas a carências culturais, vê-se imediatamente que um dos deveres centrais da escola é precisamente colmatar essas carências culturais, para pôr estes alunos tanto quanto possível ao nível dos outros.
Os mais de cinquenta mil alunos dos Cursos Profissionais são outros tantos cidadãos a quem não se reconhece o direito ao ensino de qualidade, nem à mobilidade social. São crianças e jovens a quem o governo desistiu de cultivar, isolando-os cuidadosamente dos conhecimentos de história e química, artes e economia, filosofia e matemática. Conhecimentos que além do valor intrínseco que têm, têm ainda o valor económico de lhes dar estatisticamente uma vida melhor do que os seus pais tiveram. Não tive acesso a dados estatísticos sobre a proveniência económica e social destes mais de cinquenta mil alunos vítimas da mentira política, mas a minha previsão é que será reduzidíssimo o número dos que provêm de famílias cujos pais têm doutoramentos, por exemplo, ou rendimentos 200% acima da média.
A escola tem de aprender a ensinar os jovens provenientes de famílias culturalmente carenciadas. Desistir de o fazer por ser difícil é uma perversidade inaceitável.
Posted by Desidério Murcho
Nenhum comentário:
Postar um comentário