quarta-feira, janeiro 21, 2009

Campanha contra os professores

Artigo que desmascara a campanha contra os professores, por Anabela Almeida*

[reproduzido com autorização da autora] in Luta Social

Nos últimos tempos, muitos debates e reflexões se têm levado a cabo sobre os motivos que movem os professores e que têm motivado a sua contestação, tendo, muitos deles, levado a conclusões Lapalicianas e simplistas, minando a opinião pública e consequentemente, o seu apoio, essencial, para que os professores atinjam os legitimos objectivos que visam. Penso que a contestação dos professores enferma, desde o início, da sua incapacidade de explicar ao povo português o que realmente se passou com a Escola Pública Portuguesa, cujos princípios estão consignados na Constituição da República. Em 4 anos, todo o quadro legal em que assentava a Escola Democrática foi, revogado dando lugar à Escola Empresa, pronta a ser dada a concessões, privatizações e demais negocismo que o futuro próximo quiser, o resto é uma árvore ou outra que encobrem esta floresta.
Que se fez em 4 anos com uma suposta "legitimidade democrática?"

Penso, de que nada do que vou mencionar, estava no programa do governo, pelo que me pergunto onde está a tal "legitimidade democrática"?
Estava no programa do governo acabar com os contrato colectivos de trabalho, criando o contrato individual?
Estava no programa do governo alterar o regime de contratação, fazendo com que um professor possa andar toda uma vida com contrato a prazo?
Estava no programa do governo alterar o regime dos concursos, fazendo com que um professor tenha ele 20, 30 anos de serviço docente possa ser colocado onde dele precisarem?
Estava no programa do governo encerrar 3000 escolas?
Estava no programa do governo, transferir as crianças dessas escolas para a periferia, amontoando-as às centenas, nos "modernos" centros educativos? (com sabemos os contratos de concessão fazem-se "per capita", quantos mais, mais rentável)

Estava no programa do governo libertar espaços nobres nos centros das populações que já deram e darão luxuosos condomínios, agências bancárias e até parques de estacionamento?
Estava no programa do governo fracturar, artificialmente, a carreira docente, fazendo surgir, com esta engenharia, professores de 1ª e 2ª, subordinados e chefes?
Estava no programa do governo acabar com a democracia na escola, instituindo director nomeado que todos nomeia?
Estava no programa do governo aumentar a carga horária dos professores, que se vêem, ao fim de 20, 30 anos de serviço, com uma carga lectiva de 25 horas semanais, acrescida das dezenas de horas gastas com os desvarios governativo?

Estava no programa do governo impedir, deste modo, que gente nova chegue à profissão?
Estava no programa do governo mentir sobre a avaliação reflexiva e formativa que os professores desenvolviam há cerca de 20 anos?
Estava no programa do governo acabar com a formação dos professores, oferecendo-lhes, somente, formação TiC e avaliação do desempenho docente?
Estava no programa do governo subcontratar a recibo verde, sem qualquer estrutura organizativa profissional e pedagógica, os professores que leccionam o Inglês e a Música no 1º ciclo?
Estava no programa do governo empurrar para reformas antecipadas, milhares de professores, perdendo as Escolas o seu convívio e saberes?
Estava no programa do governo intimidar os professores e em simultâneo, sem que nada o justificasse, aumentar os honorários dos Presidentes dos Conselhos Executivos/Directores, numa tentativa de promover comportamentos desviantes da dignidade dos mesmos?
Estava no programa do governo pedir a um aluno que falta, que faça uma prova, a chamada de recuperação, sobre matéria que não lhe foi ensinada?
Estava no programa do governo exigir ao professor que perca dezenas de horas na formalização daquele embuste, em vez de desenvolver os mecanismos para que o aluno adquira as aprendizagens que a sua falta o impediu de realizar?
Estava.... infelizmente, as perguntas não se esgotam .

Perante isto e depois de quase toda uma classe vir para a rua contestar este estado de coisas, tudo continua inalterável? E pergunto-me: Porquê? Eu acho que sei a resposta, mas por aqui me fico.

Anabela Almeida

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