"Escrevo este livro para alarmar os pais,
para que eles salvem os seus filhos (…)
A pedagogia moderna apenas serve para justificar
o abandono das ambições que tínhamos para os nossos filhos.
Temos, perante nós, uma verdadeira catástrofe cultural."
Marc Le Bris
( Et vos enfants ne sauront pás lire… ni compter,
Editions Stock, Abril 2004)
«Por mais forasteiro que seja às questões educativas, suponho que nenhum dos meus imaginários leitores entenderá como é que, em plena era de pontiagudo conhecimento científico, de refutação de alicerçados saberes das ciências exactas, de demonstração quotidiana da efemeridade das teorias – é possível uma sociedade inteira seguir, em benevolente acatamento, em integral dogmatismo, em completa renúncia a qualquer exame crítico, as mais utópicas especulações teóricas de ciências não exactas. Como explicar que ninguém exerça, relativamente a elas, ao menos uns relentos da velha dúvida metódica, ditame impreterível de qualquer ciência? Como explicar que nos acorcovemos todos a uma inexplicável intangível autoridade científica dessas mesmas Ciências?
Reitero, para que fique bem claro aos olhos do meu improvável leitor, que não afirmo, de todo, a necessidade do retorno a um sistema educativo da mesma natureza do que foi experimentado pela minha geração. O que afirmo é que considero um dever de elementar patriotismo que acordemos os cidadãos para esta absurda contumácia em que perseveramos. Que é um dever de cidadania recusarmo-nos assistir à transformação do país no reino, por excelência, do mais funcional iletrismo e da mais arrevesada incultura básica geral. Que é um dever de cidadania recusarmos ver a Escola e os professores reduzidos ao exercício cego de práticas absurdas e à condição de bodes expiatórios das mais primitivas frustrações individuais e colectivas da administração, dos pais, dos alunos, da sociedade… Que é um dever de cidadania recusarmos ver o país sustentar opções de estrutura e enquadramento que ensarilham a Escola numa tremenda confusão quanto à natureza das suas tarefas. Que é um dever de cidadania denunciarmos o gigantesco desperdício em simulacros de formações, de cursos e de diplomas que não preparam para o exercício competente das mais básicas funções. Que é, em suma, um dever de cidadania pedirmos que arrepie caminho um Sistema que nos obriga ao abandono das ambições que temos para os nossos filhos e, visivelmente, ao bloqueio das ambições que temos para o nosso país.
Por entre indefinições, amálgamas e embaraços, a missão da Escola é, cada vez mais, impossível. Os docentes estão no limiar da sua resistência psicológica. E as tremendas tensões geradas no interior do Sistema não tardarão em provocar a sua implosão.
Dizia mestre Camilo: "É permitido aos versistas poetarem em prosa; mas as liberdades poéticas não ajustam bem nos debates circunspectos da res pública" (in A Queda de Um Anjo, cap IX)
Deixemo-nos, pois, de "poetar": assentemos os pés em terra! Façamos algo! Tornemo-nos a Escola possível! Devolvamos-lhe a sua função, a sua autoridade e a sua dignidade!»
"Conclusão" in Educação ou Armadilha Pedagógica?, Manuel Madaleno, Papiro Editora, 2006
Esta é a conclusão tirada por Manuel Madaleno ao diagnóstico que se faz da Escola Pública portuguesa, o qual vai sendo traçado nas suas várias vertentes ao longo dos capítulos do livro, cuja leitura aconselho. Podemos não estar de acordo com tudo o que é dito mas não há dúvida que o autor põe o dedo nas feridas onde mais dói ao actual sistema educativo e ao modo como funcionam os Agrupamentos num interior de um Sistema altamente falacioso.
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