Caros colegas/amigos:
  
 Anteriormente, foi-vos enviado um comunicado  dirigido aos Enc. de Educação e população em geral sobre causas (que o  grupo de Defesa da Escola Pública teve por legítimas) dos protestos  dos professores.
 
Perante uma  Escola  Pública desacreditada, muitos pais e EE,  ...- por temerem o  insucesso dos filhos/educandos - optam pelo ensino privado onde, muitas  vezes, trabalham os mesmos professores... 
Importa manter o debate, muito  necessário, acerca daquilo que pode  e deve mudar no ensino público, no nosso País, e  
daquilo que não deve mudar porque vai contra os  próprios interesses dos alunos. 
Trabalhei 37 anos e 10 meses com turmas do 2ºe  3º Ciclos, a maioria muito distante da cultura letrada, e cheguei ao fim da  carreira sem stress, salvo aquele que era provocado pelas disfunções do  sistema...que poderiam ser corrigidas com a coordenação dos esforços da  comunidade educativa ... Violência e grandes faltas de respeito foram a excepção  e não a regra... O apoio dos pais e EE foi muito evidente. 
Por tudo isto,  tenho sido- como saberão,  talvez- muito crítica relativamente ao estado da Escola Pública e tenho lutado  pela introdução de mudanças sensíveis no seu funcionamento: uma gestão mais  democrática (e não menos...), impedindo, designadamente, a acumulação do poder  nas mesmas mãos (Presidente do CE e do CP), a introdução de Observatórios de  Qualidade em todas as escolas, a avaliação do desempenho das Escolas através dos  resultados em provas aferidas (estáveis como as do PISA para permitirem a  comparação), a formação aprofundada de todos os professores em áreas  decisivas como  leitura/escrita/literacia , sociologia, direitos  humanos, a instalação de bibliotecas/CRE's em todas as escolas e de armários  (sim, armários!)  com livros e outros recursos que permitam a diferenciação  pedagógica, nas próprias salas de aula (contra a opinião de alguns  especialistas...)... 
Não posso, portanto, ouvir falar em exclusão  escolar quando sabemos que o bem estar dos povos, o desenvolvimento sustentável,  o diálogo intercultural exigem a inclusão de TODOS, numa Escola Amiga, onde  se aprenda cooperando...  
Trabalhei também fora da Escola, com grupos de  alunos excluídos do Sistema Educativo, e foi-me grato vê-los querer prosseguir  estudos quando, antes, julgavam que não tinham capacidade para  aprender... 
Ao longo da carreira mantive sempre  a esperança de ver melhorar a escola a que todos podem aceder, a escola das  diferenças mas não a das desigualdades... 
Imaginam como fiquei quando li os  parâmetros do concurso para professor titular , incidindo apenas nos últimos 7 anos..., deixando de  fora alguns dos colegas mais experientes, rigorosos e  inovadores, permitindo que professores não efectivos na escola  ultrapassassem os do seu quadro..., sabendo que alguns titulares eram  justamente os que se haviam oposto e entravado toda e qualquer mudança  no sistema, que reprovavam mais de 50% dos seus alunos, que explicavam o  insucesso  pela teoria dos dons..., que não frequentavam acções de formação  adquadas às suas necessidades e às da escola..., que troçavam abertamente das  advertências da Assembleia de Escola quando esta  mostrava que o PEE ia  para o Norte e o PAA para o Sul...,que os Presidentes do CE (que acumulavam  funções no CP) ainda reclamavam mais poder... 
Quando vi que o ME falava de qualidade  e se apoiava, exactamente, em muitos dos que se  opunham à introdução de melhorias em áreas diagnosticadas  , juntei -me aos clamores dos colegas  humilhados e ofendidos... 
  
Em Novembro, entreguei ao Ministério um trabalho  sobre Políticas de Leitura com mais de 1000 páginas...uma vez que a leitura é o  cerne do currículo escolar e a biblioteca a "alma da Escola"...Durante a  licença sabática pude ler  sobre matérias que me interessa(va) m muito  e estou disponível para partilhar convosco as reflexões que tive oportunidade de  fazer. Assim, começo já por vos sugerir três  actividades: 
  
- uma visita às páginas do Ministério da Educação e    da Embaixada da Finlândia onde poderão verificar quais os segredos do    sucesso escolar nesse país. Não há rankings, as expectativas dos    professores sobre os alunos são altas (Efeito de Pigmaleão) porque é    normal aprender..., usam-se técnicas Freinet, ..Enfim ...os nossos colegas são    os menos angustiados da zona da OCDE.
 - uma consulta às conclusões do PISA 2000 sobre    competência leitora: lê melhor os textos    do quotidiano (alvo das provas internacionais) quem convive assiduamente, na    família,  com os bens da cultura clássica:literatura, pintura, teatro,    música...Claro que se percebe porquê se pensarmos que a literatura é o lugar    de produção dos sentidos inesgotáveis da Língua e a resposta às mais fundas    necessidades da condição humana...Se a Escola    Pública não providenciar este convívio a todas as crianças...o fosso    agravar-se-á...e Portugal nunca mais sairá dos últimos lugares....
 - uma consulta ao Relatório da IGE que mostra os    pontos fortes e fracos das 100 escolas avaliadas...É interessante verificar    que a própria inspecção não traça , das escolas, o panorama negro que o ME    difunde...E, já agora, os parâmetros poderiam inspirar o Modelo de    Avaliação...
 
 
Peço desculpa àqueles que não perfilham estas  ideias, o que é legítimo em democracia, mas não consigo estar do  lado de quem   defende a exclusão e a segregação, contra a  Escola Inclusiva...   
Agradeço a paciência de quem conseguiu chegar  até ao fim deste texto... 
  
Cordiais saudações  
 MC Rolo
 
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