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quarta-feira, dezembro 10, 2008

Novilíngua

A NOVA LÍNGUA PORTUGUESA

Desde que os americanos se lembraram de começar a chamar aos pretos 'afro-americanos', com vista a acabar com as raças por via gramatical - isto tem sido um fartote pegado!
As criadas dos anos 70 passaram a 'empregadas domésticas' e preparam-se agora para receber menção de 'auxiliares de apoio doméstico' .
De igual modo, extinguiram-se nas escolas os 'contínuos 'passaram todos a 'auxiliares da acção educativa'.
Os vendedores de medicamentos, com alguma prosápia, tratam-se por 'delegados de informação médica'.
E pelo mesmo processo transmudaram-se os caixeiros-viajantes em 'técnicos de vendas'.
O aborto eufemizou-se em 'interrupção voluntária da gravidez';
Os gangs étnicos são 'grupos de jovens'
Os operários fizeram-se de repente 'colaboradores';
As fábricas, essas, vistas de dentro são 'unidades produtivas'e vistas da estranja são 'centros de decisão nacionais'.
O analfabetismo desapareceu da crosta portuguesa, cedendo o passo à 'iliteracia' galopante.
Desapareceram dos comboios as 1.ª e 2.ª classes, para não ferir a susceptibilidade social das massas hierarquizadas, mas por imperscrutáveis necessidades de tesouraria continuam a cobrar-se preços distintos nas classes 'Conforto' e 'Turística'.
A Ágata, rainha do pimba, cantava chorosa: «Sou mãe solteira...» ; agora, se quiser acompanhar os novos tempos, deve alterar a letra da pungente melodia: «Tenho uma família monoparental...» - eis o novo verso da cançoneta, se quiser fazer jus à modernidade impante.
Aquietadas pela televisão, já se não vêem por aí aos pinotes crianças irrequietas e «terroristas»; diz-se modernamente que têm um 'comportamento disfuncional hiperactivo'
Do mesmo modo, e para felicidade dos 'encarregados de educação' , os brilhantes programas escolares extinguiram os alunos cábulas; tais estudantes serão, quando muito, 'crianças de desenvolvimento instável'.
Ainda há cegos, infelizmente. Mas como a palavra fosse considerada desagradável e até aviltante, quem não vê é considerado 'invisual'. (O termo é gramaticalmente impróprio, como impróprio seria chamar inauditivos aos surdos - mas o 'politicamente correcto' marimba-se para as regras gramaticais...)
As putas passaram a ser 'senhoras de alterne'.
Para compor o ramalhete e se darem ares, as gentes cultas da praça desbocam-se em 'implementações', 'posturas pró-activas', 'políticas fracturantes' e outros barbarismos da linguagem.
E assim linguajamos o Português, vagueando perdidos entre a «correcção política» e o novo-riquismo linguístico.
Estamos lixados com este 'novo português'; não admira que o pessoal tenha cada vez mais esgotamentos e stress. Já não se diz o que se pensa, tem de se pensar o que se diz de forma 'politicamente correcta'.
E na linha do modernismo linguístico, como se chama uma mulher que tenta destruir a educação em Portugal?
Ministra !

Antigamente, quando havia democracia, chamava-se Ex-ministra.

quarta-feira, abril 02, 2008

O que pode e deve mudar no ensino público?

Caros colegas/amigos:
Anteriormente, foi-vos enviado um comunicado dirigido aos Enc. de Educação e população em geral sobre causas (que o grupo de Defesa da Escola Pública teve por legítimas) dos protestos dos professores.
Perante uma Escola Pública desacreditada, muitos pais e EE, ...- por temerem o insucesso dos filhos/educandos - optam pelo ensino privado onde, muitas vezes, trabalham os mesmos professores...
Importa manter o debate, muito necessário, acerca daquilo que pode e deve mudar no ensino público, no nosso País, e
daquilo que não deve mudar porque vai contra os próprios interesses dos alunos.
Trabalhei 37 anos e 10 meses com turmas do 2ºe 3º Ciclos, a maioria muito distante da cultura letrada, e cheguei ao fim da carreira sem stress, salvo aquele que era provocado pelas disfunções do sistema...que poderiam ser corrigidas com a coordenação dos esforços da comunidade educativa ... Violência e grandes faltas de respeito foram a excepção e não a regra... O apoio dos pais e EE foi muito evidente.
Por tudo isto, tenho sido- como saberão, talvez- muito crítica relativamente ao estado da Escola Pública e tenho lutado pela introdução de mudanças sensíveis no seu funcionamento: uma gestão mais democrática (e não menos...), impedindo, designadamente, a acumulação do poder nas mesmas mãos (Presidente do CE e do CP), a introdução de Observatórios de Qualidade em todas as escolas, a avaliação do desempenho das Escolas através dos resultados em provas aferidas (estáveis como as do PISA para permitirem a comparação), a formação aprofundada de todos os professores em áreas decisivas como leitura/escrita/literacia , sociologia, direitos humanos, a instalação de bibliotecas/CRE's em todas as escolas e de armários (sim, armários!) com livros e outros recursos que permitam a diferenciação pedagógica, nas próprias salas de aula (contra a opinião de alguns especialistas...)...
Não posso, portanto, ouvir falar em exclusão escolar quando sabemos que o bem estar dos povos, o desenvolvimento sustentável, o diálogo intercultural exigem a inclusão de TODOS, numa Escola Amiga, onde se aprenda cooperando...
Trabalhei também fora da Escola, com grupos de alunos excluídos do Sistema Educativo, e foi-me grato vê-los querer prosseguir estudos quando, antes, julgavam que não tinham capacidade para aprender...
Ao longo da carreira mantive sempre a esperança de ver melhorar a escola a que todos podem aceder, a escola das diferenças mas não a das desigualdades...
Imaginam como fiquei quando li os parâmetros do concurso para professor titular , incidindo apenas nos últimos 7 anos..., deixando de fora alguns dos colegas mais experientes, rigorosos e inovadores, permitindo que professores não efectivos na escola ultrapassassem os do seu quadro..., sabendo que alguns titulares eram justamente os que se haviam oposto e entravado toda e qualquer mudança no sistema, que reprovavam mais de 50% dos seus alunos, que explicavam o insucesso pela teoria dos dons..., que não frequentavam acções de formação adquadas às suas necessidades e às da escola..., que troçavam abertamente das advertências da Assembleia de Escola quando esta mostrava que o PEE ia para o Norte e o PAA para o Sul...,que os Presidentes do CE (que acumulavam funções no CP) ainda reclamavam mais poder...
Quando vi que o ME falava de qualidade e se apoiava, exactamente, em muitos dos que se opunham à introdução de melhorias em áreas diagnosticadas , juntei -me aos clamores dos colegas humilhados e ofendidos...
Em Novembro, entreguei ao Ministério um trabalho sobre Políticas de Leitura com mais de 1000 páginas...uma vez que a leitura é o cerne do currículo escolar e a biblioteca a "alma da Escola"...Durante a licença sabática pude ler sobre matérias que me interessa(va) m muito e estou disponível para partilhar convosco as reflexões que tive oportunidade de fazer. Assim, começo já por vos sugerir três actividades:
  • uma visita às páginas do Ministério da Educação e da Embaixada da Finlândia onde poderão verificar quais os segredos do sucesso escolar nesse país. Não há rankings, as expectativas dos professores sobre os alunos são altas (Efeito de Pigmaleão) porque é normal aprender..., usam-se técnicas Freinet, ..Enfim ...os nossos colegas são os menos angustiados da zona da OCDE.
  • uma consulta às conclusões do PISA 2000 sobre competência leitora: lê melhor os textos do quotidiano (alvo das provas internacionais) quem convive assiduamente, na família, com os bens da cultura clássica:literatura, pintura, teatro, música...Claro que se percebe porquê se pensarmos que a literatura é o lugar de produção dos sentidos inesgotáveis da Língua e a resposta às mais fundas necessidades da condição humana...Se a Escola Pública não providenciar este convívio a todas as crianças...o fosso agravar-se-á...e Portugal nunca mais sairá dos últimos lugares....
  • uma consulta ao Relatório da IGE que mostra os pontos fortes e fracos das 100 escolas avaliadas...É interessante verificar que a própria inspecção não traça , das escolas, o panorama negro que o ME difunde...E, já agora, os parâmetros poderiam inspirar o Modelo de Avaliação...
Peço desculpa àqueles que não perfilham estas ideias, o que é legítimo em democracia, mas não consigo estar do lado de quem defende a exclusão e a segregação, contra a Escola Inclusiva...
Agradeço a paciência de quem conseguiu chegar até ao fim deste texto...
Cordiais saudações
MC Rolo