Resumo e conclusões do debate deste Sábado
Depois do que já postámos aqui, publicamos agora uma resanha mais completa do debate de dia 31:
Cerca de 70 pessoas estiveram no anfiteatro da Escola Secundária Camões para debater “a escola que temos, a escola que queremos”.
A riqueza e pluralidade das intervenções não cabem em resenhas, mas aqui ficam algumas notas para @s que queriam ter ido e não puderam e para @s que ainda acreditam que uma outra escola é possível…
Luiza Cortesão trouxe-nos, como é seu hábito, uma abordagem frontal sobre as questões da reprodução social e da discriminação através da escola, centrando-se na actualidade da pergunta: houve uma real democratização do ensino?
Com ela nos ajudou a interrogar os contextos das escolas “top mais” e “top menos” nos rankings e a questionar quem é o público dos CEF’s e dos cursos profissionais. Obrigou-nos a confrontar a escola dualizada e os saberes dualizados (para “ricos” e “pobres”), e a repensar os desafios colocados aos profissionais da educação. Nem funcionários robotizados e obedientes, nem “agentes messiânicos”, professores e professoras são agentes sociais que, mais cúmplices ou menos cúmplices, são sempre responsáveis.
E sobre as escolhas e as respostas políticas ao insucesso e ao abandono, Manuel Sarmento recordou que entre as duas opções de entender a mudança da escola, como sobredeterminada pela mudança social ou pelo interior da própria escola, o governo PS escolheu a segunda, o que lhe permite descartar-se de políticas públicas de largo espectro e descarregar na escola a culpalização e a penalização.
Desenvolvendo, entre outras linhas de reflexão, aquela que tem sido central no seu trabalho, Manuel Sarmento confrontou-nos com as questões colocadas pela reinstitucionalização da infância. Reflectir sobre a criança “global”, e a indústria global, e a criança cidadã, sobre cujos direitos existe uma inflação discursiva e uma realidade anémica, é exigência inadiável, nomeadamente perante o galope da ideologia de mercado como solução para os problemas das escolas.
A competição que favorece a desigualdade, a privatização de segmentos da educação, a asfixia de formas de democracia, são indicadores do modelo empresarial das escolas que exige alternativas. E elas passarão: por processos de aprendizagem organizacional, pela autoavaliação institucional, pela construção da escola como espaço social participado, não de uma mas de muitas lideranças, onde a pedagogia está primeiro.
Rosário Matos trouxe-nos a sua experiência como Presidente de um Conselho Executivo que tenta resistir ao frenesim da escola empresa e confrontou-nos com os desafios: a procura do sucesso real quando a realidade muda e a escola tem de dar novas respostas, nomeadamente às crianças e aos jovens filhos de imigrantes.
Joaquim Raminhos desafiou-nos sobre os novos caminhos, dos muitos que já são feitos quando as escolas se vêem a braços com crianças e jovens de contextos desfavorecidos, os mesmos que levam comer na marmita para casa, os mesmos que levam professores e funcionários a quotizarem-se para ajudar no essencial. E se o assistencialismo não é a resposta mas paliativo, estas experiências não deixam de dar contas dos “milagres” reais que as escolas fazem todos os dias, quando o governo continua mouco a políticas públicas prioritárias.
Isabel Salavessa, representante das Associações de Pais (e mães…) deu ainda o seu testemunho em defesa da escola pública, da qualidade que lhe deve ser exigida, nomeadamente ao nível das competências de língua, quando a multidisciplinarização é uma evidência.
As questões colocadas pel@s presentes foram muitas, pelo que fica apenas o sinal sobre prioridades para o debate futuro: o público dos CEF’s e a solidão da escola e dos professores perante a ausência de redes sociais e equipas multidisciplinares; o fim dos “chumbos” e a procura de estratégias que permitam falar sobre igualdade de oportunidades real; o destrunfar de áreas de saber como a História, na escolaridade obrigatória, quando o repto lançado pela Mesa fora o da valorização do conhecimento, da aprendizagem pela reflexão e pela compreensão do mundo em que se vive; da avaliação dos professores e do modelo de gestão centrado no director como peças do modelo empresarial.
O debate teve depois uma segunda parte que contou com os contributos de membros de diversos movimentos e sindicatos presentes sobre o momento da luta de professores e as perspectivas de futuro. Expressas as angústias, por diversos intervenientes, da situação de escolas onde a larga maioria de professores cedeu ao medo e entregou objectivos individuais, a análise feita salvaguardou:
- que as formas de luta mais eficazes têm sido colectivas (greves, manifestações, posições de escola) e não as que colocam cada professor, individualmente, perante a ameaça real da desvalorização da carreira e da sua precarização;
- que é errada qualquer ostracização d@s colegas que procederam à entrega dos O.I porque ela não corresponde ao seu consentimento às políticas do governo;
- que tem ganho espaço a consciência dos riscos que a escola pública corre com este governo;
- que o apelo da resistência escola a escola foi correcto e que as respostas têm sido muito diversificadas (e também dependentes da resistência ou da capacidade de intimidação dos poderes locais, nomeadamente dos PCES), estando para breve a contabilização do número de professores e escolas que resistiram a esta fase da avaliação;
- que a luta está aí e para continuar, devendo ser estratégica e aceitar formas de radicalização consensualizadas (incluindo a marcha pela educação ou um número de dias de greve mais eficaz).
Vê aqui mais fotos e ideias
Cerca de 70 pessoas estiveram no anfiteatro da Escola Secundária Camões para debater “a escola que temos, a escola que queremos”.
A riqueza e pluralidade das intervenções não cabem em resenhas, mas aqui ficam algumas notas para @s que queriam ter ido e não puderam e para @s que ainda acreditam que uma outra escola é possível…
Luiza Cortesão trouxe-nos, como é seu hábito, uma abordagem frontal sobre as questões da reprodução social e da discriminação através da escola, centrando-se na actualidade da pergunta: houve uma real democratização do ensino?
Com ela nos ajudou a interrogar os contextos das escolas “top mais” e “top menos” nos rankings e a questionar quem é o público dos CEF’s e dos cursos profissionais. Obrigou-nos a confrontar a escola dualizada e os saberes dualizados (para “ricos” e “pobres”), e a repensar os desafios colocados aos profissionais da educação. Nem funcionários robotizados e obedientes, nem “agentes messiânicos”, professores e professoras são agentes sociais que, mais cúmplices ou menos cúmplices, são sempre responsáveis.
E sobre as escolhas e as respostas políticas ao insucesso e ao abandono, Manuel Sarmento recordou que entre as duas opções de entender a mudança da escola, como sobredeterminada pela mudança social ou pelo interior da própria escola, o governo PS escolheu a segunda, o que lhe permite descartar-se de políticas públicas de largo espectro e descarregar na escola a culpalização e a penalização.
Desenvolvendo, entre outras linhas de reflexão, aquela que tem sido central no seu trabalho, Manuel Sarmento confrontou-nos com as questões colocadas pela reinstitucionalização da infância. Reflectir sobre a criança “global”, e a indústria global, e a criança cidadã, sobre cujos direitos existe uma inflação discursiva e uma realidade anémica, é exigência inadiável, nomeadamente perante o galope da ideologia de mercado como solução para os problemas das escolas.
A competição que favorece a desigualdade, a privatização de segmentos da educação, a asfixia de formas de democracia, são indicadores do modelo empresarial das escolas que exige alternativas. E elas passarão: por processos de aprendizagem organizacional, pela autoavaliação institucional, pela construção da escola como espaço social participado, não de uma mas de muitas lideranças, onde a pedagogia está primeiro.
Rosário Matos trouxe-nos a sua experiência como Presidente de um Conselho Executivo que tenta resistir ao frenesim da escola empresa e confrontou-nos com os desafios: a procura do sucesso real quando a realidade muda e a escola tem de dar novas respostas, nomeadamente às crianças e aos jovens filhos de imigrantes.
Joaquim Raminhos desafiou-nos sobre os novos caminhos, dos muitos que já são feitos quando as escolas se vêem a braços com crianças e jovens de contextos desfavorecidos, os mesmos que levam comer na marmita para casa, os mesmos que levam professores e funcionários a quotizarem-se para ajudar no essencial. E se o assistencialismo não é a resposta mas paliativo, estas experiências não deixam de dar contas dos “milagres” reais que as escolas fazem todos os dias, quando o governo continua mouco a políticas públicas prioritárias.
Isabel Salavessa, representante das Associações de Pais (e mães…) deu ainda o seu testemunho em defesa da escola pública, da qualidade que lhe deve ser exigida, nomeadamente ao nível das competências de língua, quando a multidisciplinarização é uma evidência.
As questões colocadas pel@s presentes foram muitas, pelo que fica apenas o sinal sobre prioridades para o debate futuro: o público dos CEF’s e a solidão da escola e dos professores perante a ausência de redes sociais e equipas multidisciplinares; o fim dos “chumbos” e a procura de estratégias que permitam falar sobre igualdade de oportunidades real; o destrunfar de áreas de saber como a História, na escolaridade obrigatória, quando o repto lançado pela Mesa fora o da valorização do conhecimento, da aprendizagem pela reflexão e pela compreensão do mundo em que se vive; da avaliação dos professores e do modelo de gestão centrado no director como peças do modelo empresarial.
O debate teve depois uma segunda parte que contou com os contributos de membros de diversos movimentos e sindicatos presentes sobre o momento da luta de professores e as perspectivas de futuro. Expressas as angústias, por diversos intervenientes, da situação de escolas onde a larga maioria de professores cedeu ao medo e entregou objectivos individuais, a análise feita salvaguardou:
- que as formas de luta mais eficazes têm sido colectivas (greves, manifestações, posições de escola) e não as que colocam cada professor, individualmente, perante a ameaça real da desvalorização da carreira e da sua precarização;
- que é errada qualquer ostracização d@s colegas que procederam à entrega dos O.I porque ela não corresponde ao seu consentimento às políticas do governo;
- que tem ganho espaço a consciência dos riscos que a escola pública corre com este governo;
- que o apelo da resistência escola a escola foi correcto e que as respostas têm sido muito diversificadas (e também dependentes da resistência ou da capacidade de intimidação dos poderes locais, nomeadamente dos PCES), estando para breve a contabilização do número de professores e escolas que resistiram a esta fase da avaliação;
- que a luta está aí e para continuar, devendo ser estratégica e aceitar formas de radicalização consensualizadas (incluindo a marcha pela educação ou um número de dias de greve mais eficaz).
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