terça-feira, maio 20, 2008

Escolas seleccionam alunos segundo a sua origem socio-económica

Admissão de alunos é feita segundo a sua origem socio-económica
Estudos sobre selecção de alunos nas escolas públicas foram hoje
divulgados no Parlamento
30.01.2008 - 19h14 Lusa
Foram hoje ouvidos na Assembleia da República os autores de dois
estudos que revelavam que algumas escolas públicas escolhem os alunos
com base na sua origem socio-económica, com o objectivo de reduzir o
insucesso escolar.

Os sociólogos João Sebastião e Pedro Abrantes, do Instituto Superior
de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), concluíram que, contra o
que está inscrito na lei, muitas escolas "empurram" alunos com
histórias de insucesso e origem social e cultural de um nível mais
baixo para outras instituições de ensino, que acabam por ser
consideradas mais problemáticas.

"Há escolas que têm uma política sistemática de criar mecanismos
selectivos voluntariamente, o que é anticonstitucional porque cria por
outro lado escolas onde o insucesso é fortíssimo", afirmou hoje na
comissão parlamentar de educação o sociólogo João Sebastião.

Em duas das escolas que analisou, na periferia de Lisboa, João
Sebastião verificou que os alunos se matricularam numa delas em Junho
e quando chegaram a Setembro não tinham vagas tendo de recorrer a uma
segunda opção.

"Enquanto a primeira tinha uma elevada percentagem de filhos de
licenciados e melhores condições, a outra mais abaixo era feita de
pavilhões com mais de trinta anos, onde não havia um filho de
licenciado", explicou.

Para esta segregação, além da escola, contribui ainda a pressão das
famílias."Cada pai procura o melhor para os seus filhos e acaba por
pressionar a escola a afastar os alunos com piores resultados, não
necessariamente porque procura desvantagem para os outros, mas porque
quer o melhor para o seu", disse, considerando que "as escolas têm de
ser mais activas na gestão destas pressões".

Turmas também são factores de discriminação

Também Pedro Abrantes, que analisou cinco escolas da zona urbana de
Lisboa, concluiu que cerca de metade dos alunos incluídos numa escola
com elevada taxa de insucesso tinham tentado inscrever-se na escola
com elevada taxa de sucesso, mas não tinham sido aceites, preteridos a
favor de filhos de classes sociais média ou alta.

Nestas escolas, as turmas também são factores de discriminação, já que
"claramente há turmas onde são concentrados alunos de meios sociais
mais favorecidos e com maior aproveitamento e outras turmas onde ficam
os outros vindos de meios mais marginais, ao contrário do que prevê a
lei".

"Isto é uma dupla discriminação, porque é decidido por um grupo
restrito de professores e os restantes docentes ficam divididos entre
os que têm as turmas mais aplicadas e os que leccionam as turmas mais
problemáticas", realça, defendendo alterações na lei quanto à
constituição de turmas.

"A lei prevê que a constituição de turmas seja feita por critérios
exclusivamente pedagógicos, o que dá azo a discriminação e que se
reforcem as desigualdades sociais que muitas vezes vêm já do pré-
escolar", disse, salientando que "é obvio que o critério pedagógico é
impreciso e não pode ser o único factor".

"São muitas as escolas em que os meninos brancos têm aulas de manhã e
os meninos de meios desfavorecidos, filhos de emigrantes ou com menor
aproveitamento têm aulas à tarde", disse João Sebastião.

"Só quando a escola se abrir à comunidade e houver de facto
possibilidade de os pais poderem questionar porque é que o seu filho
está a ser desfavorecido é que podemos chegar a outros resultados",
afirma.

[*Comentário: aquilo que eu oiço há uma data de tempo dizer sobre
muitas escolas, umas na periferia de Lisboa outras centrais, umas de
construção recente, outras antigas, é realmente preocupante. No meio
escolar não se tem feito nada (ou quase) de concreto, em geral, para
acabar com as referidas discriminações. O que vulnera uma posição
ética dos que se arvoram em «defensoras da escola pública».
A conivência principal é, diga-se, a da casta política, sobretudo dos
sucessivos ministérios, pois de certeza, as pessoas (principalmente
encarregados de educação, cujos filhos foram preteridos) devem ter
feito queixa repetidas vezes, junto dos órgãos de fiscalização,
nomeadamente as DREs, os CAE e a Inspecção Pedagógica.

A hipocrisia dos rankings leva ao reforço e à «fundamentação» desses
comportamentos de apartheid social...
MB]

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