quarta-feira, maio 20, 2009

Paulo Ambrósio - Resposta a Francisco Santos

Resposta às ideias e propostas de Francisco Santos (e não só...) *

Em primeiro lugar quero deixar aqui uma forte crítica à mensagem basilar que F. Santos (mas não só ele, infelizmente a blogosfera e as direcções sindicais alinha por este diapasão) passa nesta entrevista: a esperança cega, e nunca credivelmente fundamentada, que das próximas eleições saia a "varinha mágica" que resolva como por magia todos os problemas que a Classe e a Escola Pública hoje defrontam. Problemas resultantes, como todos sabem, dos tenebrosos e eficazes ataques diários que desde há 4 anos até esta parte o governo e este sinistro terceto do ME bolsam contra nós, traduzidos nas políticas anti-educativas mais ferozes, reaccionárias e economicistas de que há memória desde o 25 de Abril.

Chamo pois à coacção o conhecido aforismo popular: "Fia-te na virgem e não corras!". Isto porque os políticos do sistema bipartidário parlamentar-representativo em que vegetamos há perto de 35 anos e que dominam o ME, há quase outros tantos, já mostraram como funcionam, de modo a não deixar ilusões em ninguém: nas campanhas e pré-campanhas eleitorais prometem o céu ao "povão" e, uma vez os votos contados e guindados por eles ao poleiro, mudam de caras mas as negras políticas ou continuam ou se agravam.

Aliás a mal contada "estória" esgrimida por direcções sindicais e agora por certos movimentos de professores de pôr a luta em banho-maria e ficar tudo à espera para "confrontar" os partidos com compromissos educativos já nem é original, como pretendem passar agora aos mais verdinhos ou ingénuos: tem barbas, e brancas. Recordo-me de uma acção desse tipo promovida pelo SPGL/FENPROF em que estive presente, que decorreu com todos os partidos parlamentares em Lisboa, ainda David Justino não era ministro da Educação. Boas promessas de todos, mas logo a seguir às eleições Justino-ministro desencadeou o primeiro ataque neo-liberal e privatizador de grande envergadura à Escola Pública, começando logo por desregulamentar os concursos desse ano, precarizando e despedindo dezenas de milhares de contratados. E a enxurrada que veio a seguir veio também nessa mesma linha.

Por isso, colegas, o único caminho, esforçado é certo, é a luta por novas políticas. Luta que tem, forçosamente para sair vitoriosa, de se recentrar nos locais de trabalho (escolas) e na rua. E luta que também tem, forçosamente, de ser endurecida, e seguir em crescendo, em conjunto com os demais trabalhadores da Educação e outros sectores da Administração Pública, por objectivos não meramente educativos mas sobretudo políticos, como disse atrás.

E uma coisa é certa e sabida (pelo menos por aqueles que como eu andam nestas lutas já há décadas): se não lutarmos por nós, mais ninguém o fará! Muito menos os políticos bi-coloridos do sistema, em separado ou em bloco governativo. E quanto a miríficos cenários pós-eleitorais o meu cepticismo também é maior que muito...

O resto não passam de perigosas ilusões messiânicas que a curto prazo só lograrão a nossa luta ainda mais e, em última análise, conduzi-la-ão a novos desapontamentos, amarguras, abandonos, deserções, traições e à derrota total.


Paulo Ambrósio

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