quarta-feira, abril 08, 2009

Reflexão sobre os efeitos da desqualificação da Escola Pública

[reflexão publicada em comentário a
Eu tenho tentado por todos os meios chamar a atenção para o papel estratégico que a educação tem e para os graves efeitos de desqualificação da escola pública perpetrada por este governo. Este discurso não parece, no entanto, «passar», mesmo entre as pessoas que mais deveriam estar preocupadas com isso. Claro que não é um problema de comunicação meu, da minha falta de capacidade, pois o meu discurso é idêntico em muitos aspectos ao de outras pessoas, mesmo de pessoas com pressupostos ideológicos muito diferentes dos meus!
Então, o problema está sobretudo na super-estrutura ideológica que oprime este povo, de forma tanto mais eficaz quanto é uma coisa que passa despercebida.
Isto tem a ver com o complexo de país neo-colonizado, que eu diagnostiquei há bastante tempo, mas que é considerado «politicamente incorrecto»... por uma esquerda que apenas sabe copiar as modas intelectuais dos países centrais. Uma esquerda que se quer fantasiar como força motriz de mudança social, no entanto ela apenas mantém o equívoco em tudo, impossibilitando que as lutas se desenvolvam no contexto real, o da luta de classes, ao fim ao cabo, que teria muito mais eficácia.
Por isso, os senhores que controlam os sindicatos tudo têm feito para manter a luta em defesa da escola pública como luta corporativa dos professores, desarmando assim os próprios professores, pois estes só poderiam triunfar caso esta luta fosse compreendida pelo menos por uma grande parte do povo, como luta pela escola pública! Estes senhores sabem o que fazem, porque as propostas que vão no sentido de apelar a um alargamento horizontal da frente, em solidariedade com os restantes funcionários e com o povo trabalhador, são menorizadas quando não rejeitadas: porém, eles sabem perfeitamente que seriam essas e não outras as vias de uma luta EFICAZ, socialmente consequente e portanto perigosa para o poder instalado.
Por que não o fazem? Porque eles querem manter o controlo sobre as bases; ou seja, querem que estas estejam submetidas aos «generais» que eles se imaginam. Porque eles são na verdade políticos, com critérios políticos, interessados em fazer dano político, em afunilar portanto a luta para canalizar o descontentamento para ele se exprimir nas urnas. As urnas que sejam incendiadas! Não temos nada a ganhar com a orientação política da luta, é uma forma de auto-derrota completa: quem garante que os vossos eleitos sejam respeitosos das suas promessas? Eles serão íntegros até deterem uma fatia significativa do poder (ou até nem isso!)... depois... farão como os restantes!
Há pessoas que não passam daqui; acham que a luta é para «fazer com que o PS perca a maioria». Evidentemente que isto não me entusiasma a mim, como não entusiasma muita gente e sobretudo não me parece uma razão válida para se lutar esta luta. Tenha o partido que tiver a maioria que tiver, o problema da escola pública mantém-se; as razões para se lutar em todos os aspectos pela sua defesa mantêm-se; mais, pensar-se que as «propostas» dos partidos acrescentam algo é uma ingenuidade ou mesmo uma perversidade. Os partidos estão para o movimento social como a carraça está para o cão. Aproveitam-se dele, «cavalgam-no», tentam controlá-lo, desviá-lo para satisfazer as suas estratégias de tomada (ou manutenção) do poder.

Manuel Baptista

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