quarta-feira, abril 08, 2009

Pensar uma educação melhor

Que luta dos professores?

6 de Abril de 2009

A simpatia natural que me desperta um movimento social como o dos professores é temperada pelo contínuo autoquestionamento que essa profissão sempre implicou para mim. Por Pedro Branco

Fico sempre um pouco aflito quando sou levado a pronunciar-me sobre a classe docente, à qual também pertenço, com muito orgulho.

Em primeiro lugar porque confesso não estar muito por dentro de toda esta teia que andam a montar sobre os professores, sobretudo no que se refere à Avaliação de Desempenho e ao Estatuto da Carreira Docente, o qual, aceitemos, ainda é o nosso garante pedagógico para o que podemos ou não desenvolver dentro das nossas salas de aula. De facto, tenho assumido uma postura algo incrédula e até de algum (possivelmente infundado, infeliz ou injusto) distanciamento em relação a esse espantoso movimento que de repente se levantou e que aparentemente uniu e aproximou estes profissionais. A simpatia natural que me desperta um movimento social como o dos professores, contra a empresarialização da Escola Pública e pela dignidade da nossa profissão, é temperada pelo contínuo autoquestionamento que esta profissão sempre implicou para mim, e acho que deveria implicar para os outros. Afinal, quando se fala dos professores, está-se a falar de quê?

A avaliação, sendo de desempenho, deveria, a meu ver, assumir uma vertente formativa e formadora, através de mecanismos e instrumentos sérios e competentes de promoção de um verdadeiro profissionalismo, esse sim, em defesa da escola pública, que sempre tão necessitada esteve, desde há muito, da força e da energia dos seus professores! Que o digam os alunos… tão cheios de histórias para contar, se pudessem… Acredito que, se fossem ouvidos, mais do que enumerar as atrocidades, humilhações ou crueldades a que muitas vezes são sujeitos por parte de alguns docentes, iriam exigir professores mais empenhados e capazes de assumir com brio a difícil tarefa de ensinar e de se responsabilizar pelos insucessos dos seus alunos, já que são obrigados a frequentar este Sistema Educativo, que teima em não evoluir e em fazer dos primeiros anos de cada um uma espécie de Calvário a que todos têm de estar sujeitos… Não creio ser esse o tom geral dos Conselhos de Docentes espalhados por essas escolas, muito menos agora!

Não falo de cor, nem sequer de barriga cheia - são muitos os relatos de colegas que ilustram esta sensação de um cansaço logo à nascença:

• Pode conceber-se que professores acabadinhos de formar estejam já a pensar na Reforma, quando deveriam era agradecer(-se) pelo facto de terem podido chegar a uma das profissões mais nobres da vida? Pode imaginar-se quem sofre com tudo isso?

• Qual a explicação para o facto de, cada vez mais, vermos docentes a evitarem a utilização da sua ferramenta profissional de trabalhador intelectual (a escrita e a leitura), quer na sua postura diária (ao contrário, aliás, do que exigem aos alunos), quer quando inseridos em acções de formação (onde frequentemente estão contrariados), em que seria suposto utilizarem-na como factor essencial ao seu desenvolvimento?

• Que significado têm as práticas que assentam em repetições atrás de repetições, muitas delas quase exclusivamente livrescas, num ensino mais que ancestralmente desactualizado (que o digam as Psicologias ou as Ciências da Educação) onde os alunos são tratados como, e transformados em, meros consumidores de aulas pré-concebidas muitas vezes sem se saber bem por quem, ao invés de se apostar numa cultura de produção e de efectivo ensino, assente num clima de cooperação, de entrega, de proximidade, de dedicação e de verdade?

Sinceramente, custa-me tudo isto. Entre nós, professores, que nunca saímos da escola (primeiro como alunos e agora como docentes), há provavelmente quem deteste a escola. E quem ande a desperdiçar a sua energia, virando as costas aos alunos, apesar de serem eles a principal justificação para tão forte empenho nesta luta contra uma política que nos está a tentar destruir por dentro em quase todos os domínios da profissão. Está a mexer em demasiadas coisas…

Andam, de facto, a empurrar-nos para uma clausura, dentro de uma lógica completamente diferente daquela que, ao longo de anos e anos, sempre nos foi deixando mais ou menos descomprometidos, ao sabor do empenho e da vocação de cada um. Faz mal exigir aos professores que prestem contas do que fazem para salvar os alunos, de como trabalham, que valores estão por trás das suas práticas, quer para os responsabilizar, quer no sentido de os ajudar a melhorar o que fazem? Na minha opinião, teremos de lutar por um modelo que exija maior rigor e responsabilização no exercício da docência, criando um clima de confiança e de efectivo desenvolvimento profissional onde os professores se possam sentir seguros e acarinhados para colocarem ao serviço da Escola e dos alunos o seu empenho e amor pelo que fazem. Ao invés, parece-me, estamos a abrir caminho a desigualdades, injustiças, compadrios, corporativismos…, e temo que tudo isto não dê em nada e apenas estimule o lado esquivo do ser humano, sempre tão propenso a fugir do que o incomoda, através de mecanismos frequentemente pouco sérios, que inevitavelmente irão tornar mais frágeis ainda tanto os alunos como o Sistema Educativo.

E agora? Em que é que ficamos? Qual o lugar do pensamento pedagógico no meio deste movimento, desta luta? Não aquele de que se fala na Formação Inicial e que tão longe se apresenta dos candidatos, mas aquele que deveria estar na palma da mão de cada professor na sua relação com os alunos, com os colegas ou com o seu ofício… Não me esqueço, a este propósito (de um pensamento que na minha opinião andou e anda demasiadamente longe dos seus agentes…), do comentário de um colega, professor do Ensino Especial, quando questionado sobre esta problemática da Avaliação de Desempenho: “O mais importante para mim é que, por bem ou por mal, em 30 anos de serviço, foi a primeira vez que uma professora veio ter comigo preocupada com os seus alunos!”

Sei que as condições estão ainda mais difíceis para as grandes necessidades da Educação, que passam, como referi, por questões estruturais de fundo (ao nível da carreira, do currículo, da organização das escolas…), mas também por uma outra cultura docente, mais digna e determinada no sucesso dos seus alunos. Por isso é que, agora mais do que nunca, me parece essencial que os professores consigam agarrar esta oportunidade de redireccionarem a sua luta para dentro da sala de aula e não gastarem tantas energias fora dela. Desafio-vos, então, a serem todos EXCELENTES! Mesmo que queiram que só dê para alguns, uni-vos nas vossas escolas, na verdadeira batalha que é aquela que procura as melhores maneiras de dar a volta a um problema de aprendizagem com um aluno, ou a batalha do esforço da inclusão de todos em efectivas comunidades de aprendizagem, onde cada um aprende com cada um, onde cada elemento se torna imprescindível para o crescimento e desenvolvimento do outro. Não faltarão oportunidades para não ficarmos parados…

Já viram a força que não seria 100.000 a pensar numa Educação melhor?

http://passapalavra.info/?p=2381#more-2381

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