quinta-feira, novembro 08, 2007

Ponto de Partida para uma Reflexão

Processo verbal

do encontro com o deputado do PS, Luís Duarte Fagundes,

responsável pela

Comissão de Educação do PS da Assembleia da República

No passado dia nove de Julho realizou-se, na Assembleia

da República, um encontro, no qual participaram o

deputado Luís Fagundes e uma delegação composta por

docentes, encarregados de educação e uma estudante

universitária, todos elementos ligados à Comissão de

Defesa da Escola Pública.

Este encontro resultou de um pedido de audiência feito

pela referida Comissão, visando entregar aos deputados do

PS uma carta assinada por duzentos e oitenta cidadãos,

sobretudo professores e educadores.

Nela está expressa a grande inquietação perante o

desfigurar da Escola Pública e democrática, a Escola para

todos, na qual se empenharam muitos milhares de

docentes em ligação com as comunidades locais – a

Escola do 25 de Abril. É, também, referida a similitude

entre as políticas educativas dos outros países e o que se

passa em Portugal – todas elas correspondendo a

orientações da UE – e são formulados dois pedidos aos

deputados do PS.

O primeiro pedido é a necessidade de ser reposta a carreira

única dos professores e educadores dos ensinos básico e

secundário; o segundo, é a defesa incondicional das

respostas educativas para todas as crianças com

necessidades educativas especiais, crianças que estão já a

ser muito penalizadas com a aplicação das novas políticas

nesta área, estimando-se em 70 mil o número daquelas que

ficarão sem a resposta educativa que lhes é devida.

No início do encontro, a Comissão apresentou as razões da

sua existência, e entregou ao deputado um dossier

contendo – além da referida carta –, alguns testemunhos

de docentes, recolhidos nas salas de professores das

escolas, no momento da recolha das assinaturas.

Ao longo da reunião, cada um dos presentes expressou –

livremente – a inquietação sentida perante as

consequências das medidas que têm estado a ser tomadas,

e também foi comum o desejo de ver modificados os

rumos da educação, mostrando inclusive que tal era

possível: por um lado, porque havia muitos professores

prontos a fazê-lo, como o já mostraram nas suas práticas,

através de milhares de projectos; e, por outro lado, porque

havia uma maioria do PS, eleita para que não fosse dada

continuidade ao descalabro dos governos anteriores.

Entre os problemas levantados poderemos salientar:

-- A divisão da carreira docente dos

professores e educadores, dos ensinos básico e

secundário, quando a todos é exigido o mesmo

trabalho (Fátima Bastos).

-- Os critérios de avaliação usados no

recente concurso para professor titular,

desvalorizando a prática pedagógica em contexto

de sala de aula e pontuando sobretudo os papéis

respeitantes a cargos e as chefias. C.R. citou,

mesmo, casos exemplares da Escola Paula

Vicente – onde exerce funções docentes desde há

28 anos – como o de Margarida Leão, docente que

ao longo da sua vida profissional se preocupou e

investiu na procura das melhores respostas para o

sucesso dos alunos, através da leitura e da escrita,

foi responsável por múltiplas acções de formação

para outros colegas, tem livros publicados, e corre

o risco de não ter pontuação para professora

titular, por não ter ocupado outros cargos de

chefia. Por ver estas aberrações, Conceição Rôlo

recusou ser professora classificadora deste

Concurso a Professor Titular.

-- Professor Titular.

Vários intervenientes foram unânimes em denunciar as

consequências destas avaliações e divisões, em termos da

destruição do trabalho em equipa, no quadro da

cooperação entre pares. Conceição Rôlo disse,

nomeadamente:

“Não há ninguém que ponha mão nisto?

Isto enfraquece o PS. Havia muita coisa mal feita, que era

preciso arrumar, como por exemplo a situação de

professores que estavam somente 12 horas na escola. Mas

isto já não é arrumar, é uma ministra a desacreditar um

batalhão de gente.

Isto enfraquece o PS.

O que é que vai acontecer ao PS um dia destes?

E depois, com quem poderemos dialogar?”

Conceição Rôlo mostrou a sua surpresa com o facto de a

DGIDC ter cortado o “link” do projecto Literatura &

Literacia, sendo alegada a extinção do Instituto de

Inovação Educacional em cujo site se encontrava alojado,

desde 2001.

Explicou que se tratava de um projecto teoricamente

fundamentado, 1º classificado a nível nacional no Sistema

de Incentivos à Qualidade da Educação, e escolhido, em

1998, pelo próprio Ministério da Educação, para integrar o

Programa Boa Esperança Boas Práticas, por sua vez ligado

à iniciativa Shcooling for Tomorrow dos Ministros da

Educação da OCDE.

Lamentou não estarem a ser aproveitadas – pelo Plano

Nacional de Leitura – muitas das propostas que este

projecto, pago em grande parte pelo erário público,

mostrou serem valiosas para o desenvolvimento da

competência leitora das crianças apoiadas pelas famílias

no seu esforço de aprender. Referiu que havia mais de cem

professores ligados a este projecto, cujo esforço a Civitas

procurou não perder para a tarefa de elevação dos níveis

de literacia, aliás proposto ao Governo socialista de então,

aquando da apresentação do Plan Nacional de Lectura da

Argentina, no II Encontro Internacional O Desafio de Ler

e Escrever. Leitura e Coesão Social (2001). Leu uma

passagem das respectivas Actas e fez a entrega de um

volume dos Diálogos com a Literacia, lançados pela

Civitas em 2005, no Auditório da Assembleia da

República, integrados neste plano.

Fez, ainda, questão de ler breves passagens do Relatório

PISA 2000 que mostra, com toda a evidência, uma

correlação positiva entre a leitura de literatura clássica e a

performance em compreensão da escrita. – OCDE (2001)

“Connaissances et compétances: des atouts pour la vie.

Premiers résultats de PISA 2000”, pp 156-159.

Salientou, igualmente, as vantagens em competência

leitora dos alunos que lêem mais de 30 minutos por dia,

por prazer, (op. cit. p. 142) completando esta informação

com a de um estudo inglês, do National Literacy Trust,

realizado em 2005, que comprovou que existe uma

tendência acentuada para o abandono das práticas de

leitura quando esta é exclusivamente associada aos usos

escolares.

Conceição Rôlo concluiu denunciado o facto de muitos

alunos do 2º ciclo terem apenas três horas de Língua

Portuguesa por semana, o que é manifestamente

insuficiente para o exercício da leitura e da escrita

necessário a uma boa aprendizagem.

Carmo Vieira denunciou o esvaziamento da maior parte

do texto literário da disciplina de Português, nos novos

programas, e a teimosia do Governo em implementar a

Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e

Secundário (TLEBS), mesmo se se diz que ela está

suspensa.

Denunciou, ainda, o processo de destruição da Escola

Pública – em total contradição com o seu voto no PS,

afirmando:

“Uma Comissão de Educação do PS não pode aceitar

isto.

São os mais medíocres que estão à frente das escolas.

A DREL pediu aos serviços da minha escola (Marquês de

Pombal) todas as minhas avaliações ao longo de 23 anos

de serviço e ainda disseram para não me avisarem, que eu

saberia depois o que me iriam fazer.

O objectivo é mesmo destruir a Escola Pública. A área de

projecto é uma treta.

Acabaram com a disciplina de Organização Política,

minimizam a História, a Filosofia e a Literatura… e

depois vêm falar de cidadania!

Isto é abjecto. E… está a fazer-se por toda a Europa. É

muito triste que um PS se deixe ir a reboque de uma

política tão pouco socialista.

Na minha escola, organizaram-se visitas de estudo ao

local onde se fazem as filmagens da telenovela

“Morangos com açúcar”. O cenário era um banco onde

estava escrita a frase – filhos da puta. É esta a Escola

Pública que querem fazer? Os titulares que aceitam estes

caminhos, sem sequer se indignarem, vão ser os broncos

da nossa escola. Sempre votei PS, mas sinto que não

posso voltar a votar. Sinto que os meus alunos estão a ser

enganados.

Não é correcto que o PS deixe achincalhar os mais

fracos.”

Luísa Cintrão referiu o facto de serem os professores mais

experientes e empenhados – normalmente, também, os que

mais se indignam ao ver o descaminho da Escola Pública

– que estão a ser discriminados e silenciados. Apelou à

responsabilidade do PS: “Muitos professores votaram no

PS. Não sei se a senhora ministra é do PS. Mas vocês,

deputados do PS, têm uma grande responsabilidade.

Há muita gente que sabe como é que se organiza uma

escola, como é que se seduzem alunos para aprender; já o

provaram, e estarão prontos a retomar esse trabalho para

a construção de uma escola democrática.”

Pelo seu lado, Maria da Luz Oliveira – uma das

responsáveis pelo texto sobre as Actividades de

Enriquecimento Curricular – referiu a discriminação

existente entre o calendário escolar dos educadores de

infância e os restantes professores do Ensino Básico.

Ao concluir-se este encontro o deputado Luís Duarte

Fagundes afirmou que era conhecedor do empenhamento

de muitos professores, através das suas visitas às escolas e

que naquela reunião se levantaram questões pertinentes,

tendo sido uma delas a da leitura.

E a este propósito levantou a hipótese de organizar uma

iniciativa que permitisse uma reunião conjunta de

professores da Comissão em Defesa da Escola Pública e

do Grupo Parlamentar do PS.

O objectivo do encontro seria o de divulgar as

experiências positivas já realizadas para através delas

indicar os possíveis caminhos de construção da Escola

Pública. Propunha que o encontro se realizasse em

Outubro e a CDEP escolheria os temas a debater,

propondo-se ele distribuir o Dossier entregue pela

delegação aos outros deputados da Comissão de Educação

do PS.

Face a esta proposta, vários elementos da Comissão em

Defesa da Escola Pública tomaram a palavra para mostrar

a sua concordância, ficando decidido que – assim que

possível – seria enviado para a Comissão de Educação do

PS da Assembleia da República um esboço do programa

de trabalhos para essa iniciativa.

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