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quinta-feira, março 12, 2009

Retirado do blog (Re)Flexões: «Direitos & deveres»

Direitos & deveres

O carácter profundamente totalitário do PS de Pinto de Sousa é algo que ultrapassa as fronteiras do absurdo.
Quando ouvimos falar no actual partido socialista como “o grande partido da esquerda democrática” só podemos rir a bandeiras despregadas, para não ter que cerrar os dentes com raiva de uma mentira tão obscena.
Não cabe aqui, no curto espaço de uma entrada de blogue, a enumeração de todas as patifarias totalitárias que os “boys & girls pêéssianos” têm cometido ao longo dos últimos quatro anos, sob o beneplácito da direcção do partido e do governo e com a complacência discreta e entusiasmada da presidência da república.
Por isso vou limitar-me a analisar hoje o disparate e o despotismo que estão por trás da alegada obrigatoriedade de auto-definição de objectivos individuais, para que seja possível realizar-se a avaliação de desempenho dos professores.
Na verdade, ao contrário do que afirmam os guardas pretorianos da ministra, a definição de objectivos individuais por parte dos professores constitui um direito e não um dever, e como tal o não exercício desse direito não é passível de qualquer tipo de penalização. Por definição um direito exerce-se ou não, segundo a vontade do titular desse direito, sem que daí advenha maior prejuízo do que o do não exercício do direito.
Por outro lado existe uma falácia na argumentação do governo e dos seus lacaios, que consiste em confundir a necessidade de existência de objectivos para aferir o seu grau de concretização, com a obrigatoriedade desses objectivos serem definidos pelo avaliado.
De facto não se contesta a necessidade de existirem objectivos que orientem o trabalho a realizar pelos professores. Pelo contrário, o que se afirma é que eles sempre existiram e continuarão a existir, independentemente de quem os formule.
Tal como em qualquer outra organização, a escola, através dos seus órgãos de gestão, define os objectivos organizacionais e atribui a cada um dos membros da organização as tarefas adequadas à concretização desses objectivos.
O que há de diferente, em relação à profissão docente, é o reconhecimento do direito de participação dos professores na definição desses objectivos organizacionais. Já no que à distribuição do serviço e organização das tarefas diz respeito, o direito de participação é muitissimo mais reduzido.
Daqui decorre que os professores, tendo direito a participar na definição dos objectivos organizacionais (colaboração na elaboração dos instrumentos estratégicos - PEE, PCE e PAA), não têm o dever de os definir e podem abdicar do seu direito a essa participação. Por outro lado, embora possa solicitar uma distribuição de serviço mais agradável e condizente com os seus interesses e capacidades, nenhum professor tem o direito de se recusar a cumprir os objectivos e as tarefas que lhe sejam destinadas pelo órgão de gestão.
Assim, quando os responsáveis ministeriais, ou os seus agentes nas instâncias intermédias, alegam que sem que o professor defina os seus objectivos individuais será impossível realizar a respectiva avaliação estão a deturpar deliberadamente o conceito do exercício de um direito, substituindo-o de forma autoritária e despótica pelo conceito de obrigatoriedade de cumprimento de um dever.
E quando os lacaios, que no terreno (escolas) replicam esta argumentação, notificam colegas de que não serão avaliados e não progredirão na carreira por não entregarem os objectivos individuais, além de se comportarem como verdadeiros cães de fila do governo, demonstram uma enorme falta de cultura democrática e uma não menos grave incapacidade de perceber a língua em que nos deveríamos entender.

quarta-feira, março 05, 2008

Recado ao PS, por Ana Benavente


1.

Não sou certamente a única socialista descontente com
os tempos que vivemos e com o actual governo. Não
pertenço a qualquer estrutura nacional e, na secção em
que estou inscrita, não reconheço competência à sua
presidência para aí debater, discutir, reflectir,
apresentar propostas. Seria um mero ritual.

Em política não há divórcios. Há afastamentos. Não me
revejo neste partido calado e reverente que não tem,
segundo os jornais, uma única pergunta a fazer ao
secretário-geral na última comissão política. Uma
parte dos seus actuais dirigentes são tão socialistas
como qualquer neoliberal; outra parte outrora ocupada
com o debate político e com a acção, ficou esmagada
por mais de um milhão de votos nas últimas
presidenciais e, sem saber que fazer com tal
abundância, continuou na sua individualidade
privilegiada. Outra parte, enfim, recebendo mais ou
menos migalhas do poder, sente que ganhou uma maioria
absoluta e considera, portanto, que só tem que ouvir
os cidadãos (perdão, os eleitores ou os consumidores,
como queiram) no final do mandato.

Umas raríssimas vozes (raras, mesmo) vão ocasionando
críticas ocasionais.

2.

Para resolver o défice das contas públicas teria sido
necessário adoptar as políticas económicas e sociais e
a atitude governativa fechada e arrogante que temos
vivido? Teria sido necessário pôr os professores de
joelhos num pelourinho? Impor um estatuto baseado
apenas nos últimos sete anos de carreira? Foi o que
aconteceu com os "titulares" e "não titulares", uma
nova casta que ainda não tinha sido inventada até
hoje. E premiar "o melhor" professor ou professora?
Não é verdade que "ninguém é professor sozinho" e que
são necessárias equipas de docentes coesas e
competentes, com metas claras, com estratégias bem
definidas para alcançar o sucesso (a saber, a
aprendizagem efectiva dos alunos)?

Teria sido necessário aumentar as diferenças entre
ricos e pobres? Criar mais desemprego? Enviar a GNR
contra grevistas no seu direito constitucional?
Penalizar as pequenas reformas com impostos? Criar
tanto desacerto na justiça? Confirmar aqueles velhos
mitos de que "quem paga é sempre o mais pequeno"?
Continuar a ser preciso "apanhar" uma consulta e, não,
"marcar" uma consulta? Ouvir o senhor ministro das
Finanças (os exemplos são tantos que é difícil
escolher um, de um homem reservado, aliás) afirmar que
"nós não entramos nesses jogos", sendo os tais "jogos"
as negociações salariais e de condições de trabalho
entre Governo e sindicatos. Um "jogo"? Pensava eu que
era um mecanismo de regulação que fazia parte dos
regimes democráticos.

3.

Na sua presidência europeia (são seis meses, não se
esqueça), o senhor primeiro-ministro mostra-se
eufórico e diz que somos um país feliz. Será? Será que
vivemos a Europa como um assunto para especialistas
europeus ou como uma questão que nos diz respeito a
todos? Que sabemos nós desta presidência? Que se fazem
muitas reuniões, conferências e declarações, cujos
vagos conteúdos escapam ao comum dos mortais. O que é
afinal o Tratado de Lisboa? Como se estrutura o poder
na Europa? Quais os centros de decisão? Que novas
cidadanias? Porque nos continuamos a afastar dos
recém-chegados e dos antigos membros da Europa? Porque
ocupamos sempre (nas estatísticas de salários, de
poder de compra, na qualidade das prestações dos
serviços públicos, no pessimismo quanto ao futuro,
etc., etc.) os piores lugares?

Porque temos tantos milhares de portugueses a viver no
limiar da pobreza? Que bom seria se o senhor
primeiro-ministro pudesse explicar, com palavras
simples, a importância do Tratado de Lisboa para o
bem-estar individual e colectivo dos cidadãos
portugueses, económica, social e civicamente.

4.

Quando os debates da Assembleia da República são
traduzidos em termos futebolísticos, fico muito
preocupada. A propósito do Orçamento do Estado para
2008, ouviu-se: "Quem ganha? Quem perde? que
espectáculo!". "No primeiro debate perdi", dizia o
actual líder do grupo parlamentar do PSD "mas no
segundo ganhei" (mais ou menos assim). "Devolvam os
bilhetes...", acrescentava outro líder, este de
esquerda. E o país, onde fica? Que informação
asseguram os deputados aos seus eleitores? De todos os
partidos, aliás. Obrigada à TV Parlamento; só é pena
ser tão maçadora. Órgão cujo presidente é eleito na
Assembleia, o Conselho Nacional de Educação festeja 20
anos de existência. Criado como um órgão de
participação crítica quanto às políticas educativas,
os seus pareceres têm-se tornado cada vez mais raros.
Para mim, que trabalho em educação, parece-me cada vez
mais o palácio da bela adormecida (a bela é a
participação democrática, claro). E que dizer do
orçamento para a cultura, que se torna ainda menos
relevante? É assim que se investe "nas pessoas" ou o
PS já não considera que "as pessoas estão primeiro"?

5.

Sinto-me num país tristonho e cabisbaixo, com o PS a
substituir as políticas eventuais do PSD (que não
sabe, por isso, para que lado se virar). Quanto mais
circo, menos pão. Diante dos espectáculos oficiais bem
orquestrados que a TV mostra, dos anúncios de um
bem-estar sem fim que um dia virá (quanto
sebastianismo!), apetece-me muitas vezes dizer: "Aqui
há palhaços". E os palhaços somos nós. As únicas
críticas sistemáticas às agressões quotidianas à
liberdade de expressão são as do Gato Fedorento. Já
agora, ficava tão bem a um governo do PS acabar com os
abusos da EDP, empresa pública, que manda o "homem do
alicate" cortar a luz se o cidadão se atrasa uns dias
no seu pagamento, consumidor regular e cumpridor...
Quando há avarias, nós cortamos-lhes o quê? Somos
cidadãos castigados!

O país cansa! Os partidos são necessários à democracia
mas temos que ser mais exigentes.

Movimentos cívicos...procuram-se (já há alguns, são
precisos mais). As anedotas e brincadeiras com o "olhe
que agora é perigoso criticar o primeiro-ministro" não
me fazem rir. Pela liberdade muitos deram a vida. Pela
liberdade muitos demos o nosso trabalho, a nossa
vontade, o nosso entusiasmo. Com certeza somos muitos
os que não gostamos de brincar com coisas tão sérias,
sobretudo com um governo do Partido Socialista.

Ana Benavente

Professora universitária, militante do PS
(recebido por mail)