domingo, janeiro 06, 2008

2008: mais um caso lamentável de obediência a leis absurdas

Picasso, Self Portrait Facing Death

Associação lamenta morte de professora com cancro que trabalhou até Dezembro
4 de Janeiro de 2008, 18:01

Viseu, 04 Jan (Lusa) - A Associação Sindical de Professores Pró-Ordem lamentou hoje que uma docente que sofria de cancro do pulmão tenha morrido sem que lhe fosse reduzida a componente lectiva e apelou ao Ministério da Educação que altere a legislação em causa.
Este caso vem reacender a polémica que levantou no Verão passado a morte de uma professora de Aveiro com leucemia e de um docente de Braga com cancro na traqueia, que trabalharam nas respectivas escolas praticamente até à data da morte, depois de lhes serem negados por juntas médicas os respectivos pedidos de aposentação.
Maria Cândida Ferreira Pereira, professora de Educação Visual e Tecnológica na Escola Básica 2/3 Ana de Castro Osório, em Mangualde, morreu quinta-feira à tarde, vítima de cancro do pulmão.
Em declarações à agência Lusa, o presidente da Pró-Ordem, Filipe Correia do Paulo, criticou a legislação actual, que considera "uma violência" e uma "desumanidade" para com os professores que sofrem de doenças graves.
"Com a legislação anterior, mediante requerimento e prova médica, por questões de humanidade, o Ministério autorizava a redução total ou parcial da componente lectiva", explicou.
Desta forma, os professores poderiam ficar com "tarefas mais leves" do que ter uma turma à sua responsabilidade, como estar numa biblioteca.
"Com as alterações introduzidas pela nova legislação dos professores, nem vale a pena fazer o pedido, porque não está prevista a redução da componente lectiva", acrescentou.
Filipe Correia do Paulo disse que a Pró-Ordem se sente "revoltada com esta legislação que foi imposta" e apela ao Ministério da Educação que reconsidere, porque está em causa "uma questão de humanidade".
Também o presidente do conselho executivo da Escola Básica 2/3 Ana de Castro Osório, João Carlos Alves, disse à Lusa discordar desta legislação, considerando que "a lei quando é feita num Estado de direito e democrático, tem que estar ao lado das pessoas que o dignificam".
Como a escola é obrigada a seguir a lei, restava apenas "a solidariedade dos colegas", que nas reuniões procuravam aligeirar as tarefas de Maria Cândida, referiu.
João Carlos Alves disse que Maria Cândida "era uma pessoa com uma grande força de vontade", que esteve na escola pela última vez na altura das reuniões das avaliações de Natal.
Segundo o responsável, a professora pertencia a Midões (Coimbra), mas estava destacada em Mangualde pelo terceiro ano, "porque tinha pedido aproximação à residência por motivos de saúde".
O funeral está marcado para as 10:30 de sábado, na igreja de Santa Cruz, em Gouveia. Maria Cândida, nascida a 01 de Agosto de 1960, deixa duas filhas menores, de 12 e 14 anos.
AMF.
Lusa/fim

Comentários

Margarida disse...

Todos lamentam, mas o que fizeram na altura?
Agora é tarde para esta mulher, professora, família e amiga de pessoas para quem este ‘assunto legislativo’ não tem remédio. Se alguma dessas pessoas me ler, saiba que pelo menos a revolta partilho.
Tenho vergonha da 'classe' a que pertenço.
Margarida Azevedo

brotero disse...

Vergonha a todos os níveis. Começando pelo governo do sr. Sócrates, passando pela ministra (com m minúsculo) e terminando na classe docente. Mas que raio de povo é este que não se revolta com situações como esta? Só um povo carneirista, sem coragem e sem princípios de solidariedade se comporta como tal. Tal povo não merece ter pátria!

Um comentário:

Anônimo disse...

e nunca mais se ouviu falar no assunto. Ora essa ... há história e da grande aí.
Abraço,
M.