sexta-feira, junho 11, 2010

Comunicado da Comissão de Defesa da Escola Pública (CDEP)


Não à transformação das escolas em “cadeias de montagem”
Não à desertificação do país

Sim à serenidade e à democracia no ambiente escolar

Sim ao vínculo público de todos os trabalhadores do Ensino

Sim ao rigor, à justiça, à seriedade e a respostas de qualidade para todos os alunos

Não ao charlatanismo e ao tratamento “de segunda”, nem que seja para um único aluno

Dêem a palavra aos intervenientes no processo educativo

Conferência Nacional em Defesa da Escola Pública


Todos quantos apostam no desenvolvimento económico, social e cultural da sociedade humana, consideram a Escola Pública como um bem imprescindível e inestimável – encarado como o direito à realização individual de cada ser humano. No entanto, não se trata de uma escola qualquer. Há muitas escolas públicas. Trata-se de uma Escola Pública construída com base em recursos, quer materiais quer humanos, à altura de proporcionarem o melhor processo de aprendizagem, de sociabilização e de formação integral de cada um dos seus alunos.
As reformas que têm sido operadas na Escola Pública portuguesa, para a colocar ao serviço da competitividade económica – esse novo (velho!) paradigma assente no menor custo possível da força-de-trabalho – têm sido o contrário dos objectivos defendidos, há séculos, por milhares de pensadores, de filósofos, de militantes das causas da justiça social e da liberdade.
É assim que a nova ministra da Educação e o primeiro-ministro anunciaram mais duas medidas subversivas do processo de desenvolvimento da sociedade democrática e do processo educativo: o encerramento de mais 900 escolas do primeiro ciclo do ensino básico; e o direito dos alunos – com 15 anos de idade e que não tiveram sucesso no oitavo ano de escolaridade – poderem dar um salto para o final do nono e realizarem um exame que os habilite a passar para o décimo.
A CDEP associa-se às famílias das crianças que, apostando em continuar a viver nas regiões do país que o sistema económico condena à desertificação, não podem compreender nem aceitar que aos seus filhos seja imposto como condição para usufruir do direito legítimo e constitucional a uma escola de qualidade, terem que deslocar-se diariamente dezenas de quilómetros, de casa para a escola e da escola para casa, com todas as consequências negativas que esta vida diária acarreta.
O que se pretende: seduzir as crianças para a escola ou transformar esta num fardo?
E a propósito da criação dos enormes centros “educativos” – apresentados como a maneira de proporcionar às crianças todas as condições de aprendizagem, todos os recursos, no quadro de mega agrupamentos, que irão do pré-escolar ao secundário – são os professores e restantes trabalhadores do Ensino que testemunham como esta organização corta cada vez mais a escola da relação com as comunidades. Ao mesmo tempo, ela abafa as condições de uma organização propiciadora do imprescindível estreitar de laços entre os professores e educadores e os alunos, agravando ainda mais as já tão difíceis condições de trabalho e a relação pedagógica existentes em muitas escolas do meio urbano.
Sabe-se que é a subserviência a uma política ditada pelas necessidades dos especuladores que impõe estas e todas as outras restrições na Escola Pública.
Por isso, a CDEP está solidária com todo o movimento sindical, com a luta dos professores que não aceitam a precariedade nem os recibos verdes, com a exigência da colocação de professores de Ensino Especial, de psicólogos, de terapeutas e de auxiliares da Acção Educativa com vínculo público, com verdadeiros contratos de trabalho. Ninguém pode aceitar que, actualmente, estejam milhares de trabalhadores a ser pagos pela Segurança social, sob a forma de subsídio de desemprego, a desempenhar as funções de auxiliares da Acção Educativa, no quadro da maior precariedade.
Educação é rigor
Educação não é charlatanismo
Ao mesmo tempo que o Governo se prepara para dar um salto qualitativo no desmantelamento do Sistema Nacional de Ensino e no processo de desertificação do nosso país, não hesita em, despudoradamente, pretender vender gato por lebre, quando apresenta como solução plausível – para os alunos que não conseguiram aprender por múltiplas razões – o direito a saltarem do 8º ano sem sucesso, para um exame do 9º ano lhes pode dar o diploma de entrada no 10º ano!
Será que se pretende despachar estes alunos do Sistema Normal de Ensino com um prémio de consolação?
Será que a Escola Pública deve desistir deles?
Não haverá nenhuma proposta séria a apresentar a estes alunos? Serão eles considerados como futuros “cidadãos de segunda”?
E os outros que estão a esforçar-se para ter bons resultados, que dirão desta forma de tratamento?
E os professores para que servem afinal? Para dar aval a esta forma de “educação” e de “qualificação”?
Os problemas avolumam-se e agravam-se em toda a sociedade e dentro da Escola. É urgente tomar tudo em mãos, para salvar a democracia e todos os serviços públicos.
É assim que, no respeitante à Escola Pública, a CDEP reitera a proposta que, desde há mais de um ano, tem assumido publicamente: a necessidade das organizações – que representam os professores e restantes intervenientes no processo educativo – incentivarem e ajudarem a desenvolver a discussão democrática nas escolas, sobre o conjunto dos problemas que estão colocados ao Sistema Nacional de Ensino.
Será desta discussão livre e empenhada que devem sair as propostas a defender por delegados mandatados para o efeito, numa Conferência Nacional de Defesa da Escola Pública, da responsabilidade de uma Comissão Organizadora que integre representantes das organizações ligadas a todos os intervenientes no processo educativo.

Algés, 8 de Junho de 2010

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